Especialistas destacam acesso à educação financeira como um dos principais fatores para o distanciamento entre classes sociais em cenários de crise
Pode ser em um período de grande crise econômica global ou em tempos gloriosos do mercado financeiro e do cenário macroeconômico, os ricos sempre ficam mais ricos. Apesar de parecer só um dito popular, é uma verdade. O patrimônio acumulado, é claro, é a maior diferença entre as classes mais ricas e mais pobres da sociedade. Mas o acesso à educação financeira e à informação, segundo especialistas, são dois fatores dominantes para a diferença entre essas classes crescer ainda mais, principalmente em momentos adversos da economia mundial.
O coordenador do curso de economia da Faap, Paulo Dutra, explica que o rico acaba recebendo mais informações sobre a economia no cenário doméstico e global, além de ter fácil acesso à educação financeira, o que o ajuda a rentabilizar ainda mais visando o futuro. Além disso, sobretudo em momentos de crise, a classe mais pobre da sociedade gasta basicamente a renda inteira com consumo de bens imediatos, por necessidade. E esses bens, devido ao cenário macroeconômico, sofrem reajuste de preço a todo momento.
“O pobre vai gastar mais da sua renda, que já não está aumentando, para comprar uma quantidade menor de produtos. Ou aqueles que têm uma poupança prévia, para não perder tanto padrão de vida, vão começar a fazer uma ‘despoupança’ para poder manter o padrão de consumo. Enquanto isso, os ricos, muito ricos, que gastam uma parte muito pequena da sua renda para o consumo, não vão ver tanta diferença assim no aumento de preços, porque a participação do consumo de sobrevivência pros ricos em relação a sua renda é muito menor”, explicou Dutra.
Sem sentir o peso que as classes mais pobres sofrem no bolso, em momentos de crise, a população mais rica consegue fazer investimentos que remuneram e entregam um bom ganho de capital (com risco zero, já que a renda fixa acaba oferecendo bons retornos).
“Assim, eles ficam cada vez mais ricos, fora todos os instrumentos que existem para que a classe mais rica ainda tenha benefícios tributários com aplicações financeiras”, complementou Dutra.
Em linha com a fala de Dutra, o analista da Top Gain, Sidney Lima, destaca que o rico também tem a vantagem de fazer alocações de capital nos ativos mais adequados para cada situação.
“O rico acaba tendo acesso à informação de qualidade e assessoria, muitas vezes de pessoas e profissionais que o pobre não tem. E essa mentalidade de como trabalhar com o dinheiro faz toda diferença”, disse Lima.
Para trabalhar com o dinheiro, entretanto, é preciso tê-lo. E no caso da população pobre no Brasil este é um grande problema, já que a inflação acaba corroendo o poder de compra das classes mais pobres, que acabam utilizando a remuneração apenas para sobreviver, como explica Adriano Gomes, sócio-fundador da Methode Consultoria.
“Em todas as crises existe um deslocamento da renda. Uma parte da classe média, por exemplo, passa a diminuir seus gastos, empobrecendo em função da renda menor e com isso quase se nivelando aos mais pobres. Enquanto isso, quem tem um poder de renda maior, sofre. Até porque boa parte de suas riquezas estão atreladas a investimentos com remuneração muito comum em tempo de crise econômica, como por exemplo da taxa de juros”, disse Gomes.
O especialista destacou que os títulos de renda fixa acabam simplificando a vida da população mais rica em tempos de altas taxas de juros e inflação nas alturas.
“Esses títulos oferecem risco zero e tem uma remuneração muito atraente para quem tem seu capital sobrando e pode investir, que não é o caso das classes mais pobres que mal conseguem suprir suas necessidades básicas”, explicou Gomes.
Em complemento à fala de Gomes, a professora de finanças da FAAP e sócia da The Hill Capital, Virginia Prestes, destaca que o rico sempre consegue surfar melhor os diferentes momentos da economia (seja ela favorável ou não para a camada mais pobre da sociedade).
“O rico consegue surfar melhor porque ele tem mais dinheiro em liquidez. Ele consegue aproveitar para comprar os ativos mais depreciados. Consegue se movimentar melhor entre as diferentes classes de ativos para aproveitar as oportunidades. O rico é rentista, então ele aproveita muito quando a taxa de juros está mais alta, porque ele ganha mais. Ele consegue se proteger melhor da inflação e ganha mais, enquanto que as pessoas que não tem investimentos acabam sofrendo só a parte ruim, a alta de preços, tudo fica mais caro, o salário não acompanha na mesma magnitude… Tem muito a ver com a formação pessoal e a informação”, disse Prestes.
Mas e em tempos de Selic baixa e inflação controlada?
O rico também consegue ficar mais rico. Isso porque, segundo os especialistas consultados pelo BP Money, o cenário fica mais atrativo para fazer investimentos de longo prazo, principalmente ligados à renda variável ou até títulos de renda fixa com prazos maiores.
“O rico pode contratar gestores para fazer a gestão de seu patrimônio em diferentes momentos econômicos. Ele tem acesso a mercados estrangeiros. Tem uma série de possibilidades de rentabilizar muito mais sua riqueza do que o pobre. São muitos instrumentos que não chegam ao pobre. Ele pode fazer aplicações por um prazo maior, porque não precisa dos recursos para sobreviver imediatamente. Isso explica o que faz aumentar a diferença entre ricos e pobres mesmo em momentos de taxa de juros mais baixas, fora de momentos de crise econômica”, explicou Paulo Dutra, coordenador do curso de economia da FAAP.
Por Juliano Pássaro