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Os principais candidatos à Presidência da República fizeram, neste sábado (17), campanha eleitoral em terrenos considerados hostis.
Enquanto o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi a Curitiba, cidade que concentrava a Operação Lava Jato e onde ficou preso 580 dias, o presidente Jair Bolsonaro (PL) foi a Pernambuco e visitou inclusive a terra natal do petista, Garanhuns.
Lula disse não ter ódio em relação à capital paranaense, e sim amor, e Bolsonaro em dois discursos afirmou acreditar que vai vencer a eleição no primeiro turno.
No primeiro ato de campanha de Lula em Curitiba, a memória da prisão marcou os discursos, em um clima de triunfo entre os militantes.
O evento ocupou quatro quadras na Boca Maldita, no centro da cidade, e teve forte esquema de segurança. Todos os participantes passaram por revista e as ruas laterais foram fechadas para o trânsito.
"Tem gente que pensa que eu fiquei com ódio de Curitiba, porque eu fiquei preso aqui. Se vocês soubessem, a cadeia me fez aprender a amar Curitiba, porque foi ali na cadeia que eu conheci a Janja e foi aqui que nós decidimos nos casar. Tenho muito carinho por homens e mulheres dessa cidade, desse estado, que ficaram 580 dias pedindo a minha liberdade", disse.
O ex-presidente cumpria pena na carceragem da Polícia Federal após ser condenado em segunda instância por corrupção e lavagem de dinheiro no caso do tríplex de Guarujá. Ele deixou a prisão no fim de 2019, após a maioria dos ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) decidir que a execução da pena só deve ocorrer com o trânsito em julgado da sentença.
Em março de 2021, Lula recuperou os direitos políticos diante da decisão do ministro do STF Edson Fachin de anular suas condenações na Lava Jato, ao considerar a Justiça Federal do Paraná incompetente para julgá-lo.
Posteriormente, o ex-juiz Sergio Moro (União Brasil), hoje candidato ao Senado pelo Paraná, foi julgado parcial pela corte, que anulou todos os seus atos no processo.
Lula discursou logo após receber afagos de Roberto Requião, candidato do PT ao Governo do Paraná, já governado por ele por três vezes.
Assim como fez quinta-feira (15) em Montes Claros (MG), o petista voltou a criticar a interferência das Forças Armadas no processo eleitoral e disse que, se eleito, elas voltarão a ter o papel definido na Constituição, de garantir a soberania protegendo o país em suas fronteiras.
"As nossas Forças Armadas não tinham que estar preocupadas em fiscalizar urna. Quem tem obrigação de fiscalizar é a Justiça Eleitoral, os partidos políticos e os candidatos", disse.
Lula destacou políticas de seus governos para a educação, chamando atenção para a redução do aprendizado na educação básica durante a pandemia, conforme dados do Ideb divulgados na sexta (16).
"Esse Bolsonaro não entende de educação, não entende de emprego, não entende de sindicato, não entende de enfermagem, não entende de absolutamente nada, a não ser de fake news e de mentir para a sociedade brasileira, como ele faz todo santo dia."
Assim como havia acontecido na véspera, no ato em Porto Alegre, acenos para as mulheres, decisivas para a vitória nas urnas, se repetiram no palanque, da mesma forma que os apelos para que a militância do partido se engaje para obter a vitória no primeiro turno.
"Esse país precisa de um presidente civilizado, um presidente que saiba que mulher não quer ser mais objeto de cama e mesa. Mulher quer ser o que ela quiser. É preciso cumprir a Constituição e regular a lei para que a mulher ganhe igual ao homem que fizer a mesma função ou ganhe mais."
Bolsonaro enfrenta rejeição das mulheres. Entre elas, Lula tem 46% das intenções de voto, enquanto o presidente registra 29%, conforme pesquisa Datafolha divulgada na quinta.
Já Bolsonaro iniciou o sábado com uma motociata ""sem capacete, mais uma vez"" que partiu de Santa Cruz do Capibaribe e terminou em Caruaru, onde fez discurso em que afirmou que vencerá a eleição no primeiro turno.
O presidente também discursou, no mesmo tom, em Garanhuns, para onde se deslocou na tarde deste sábado.
Pesquisa feita pelo Datafolha entre terça-feira (13) e quinta mostrou que o ex-presidente Lula lidera a corrida eleitoral com 45% das intenções de voto, uma vantagem de 12 pontos em relação ao atual presidente, que tem 33%.
"E um detalhe, para presidente da República nós vamos ganhar no primeiro turno. Vamos mostrar que nós não queremos a volta dos escândalos que tínhamos há pouco, no passado", disse Bolsonaro em Caruaru, logo após pedir votos para candidatos pernambucanos.
Num discurso de nove minutos, o presidente disse ainda que o preço da gasolina caiu e que vai investir recursos no Brasil, "não em Cuba ou na Venezuela".
Bolsonaro afirmou ainda que vai manter o Auxílio Brasil "lá em cima" num eventual segundo governo.
Em Garanhuns, um dos redutos do lulismo em Pernambuco, a participação do presidente na Marcha para Jesus fez com que o PT orientasse seus militantes na cidade a ficarem em casa, para evitar o risco de conflito.
"É fato que esse governo e o bolsonarismo têm agredido a Justiça, de forma verbal e até física a imprensa, militantes nossos têm perdido a vida. Não achamos prudente ficar na rua porque acreditamos que essa gente, além de violenta, é covarde em seus atos", afirmou Eraldo Ferreira, dirigente do partido na cidade e primo do ex-presidente Lula.
Em seu discurso, Bolsonaro atacou o ex-presidente, sem citar o nome do adversário, em alusão a escândalos de corrupção dos governos petistas.
"Quem roubou no passado não merece mais voltar a ocupar lugar de destaque no Planalto Central. Querem voltar à cena do crime, não conseguirão."
Durante a marcha na principal avenida de Garanhuns, uma apoiadora de Lula estendeu uma bandeira alusiva ao ex-presidente em um prédio. Os bolsonaristas reagiram em coro com vaias e xingamentos.
Garanhuns é um dos redutos do lulismo no estado. Em 2018, o petista Fernando Haddad obteve 72,22% dos votos válidos no segundo turno, ante 27,78% de Bolsonaro, à época no PSL.
No Nordeste, Bolsonaro busca reduzir a desvantagem em relação a Lula. Pesquisa Datafolha divulgada na quinta mostra o petista com 60% das intenções de voto entre eleitores do Nordeste, ante 23% do atual presidente.Marcelo Toledo, Diogenes Barbosa, José Matheus Santos, Géssica Brandino e Mauren Luc