Documentos encontrados em celular de ex-assessor de Bolsonaro indicam plano de golpe

Por Marcelo Rocha, Fabio Serapião e Ranier Bragon | Folhapress

Foto: Reprodução / SECOM

O ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), levantou na sexta-feira (16) o sigilo do relatório da Polícia Federal com análise do conteúdo encontrado no celular do Exército tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL).
As mensagens recuperadas no aparelho de Cid mostram diálogos em que interlocutores, oficiais da força, debatiam o uso das Forças Armadas contra o resultado das eleições vencidas por Lula (PT). Parte do material foi revelado pela revista Veja.
Uma das pessoas que trocaram diálogos com o ex-auxiliar de Bolsonaro foi o coronel Jean Lawand Junior, recentemente designado para representação Diplomática do Brasil nos Estados Unidos, em Washington. A nomeação foi cancelada nesta sexta pelo comando do Exército.
"Cidão, pelo amor de Deus, cara. Ele [Bolsonaro] dê a ordem que o povo tá com ele, cara. Se os caras não cumprir, o problema é deles. Acaba o Exército Brasileiro se esses cara não cumprir a ordem do, do Comandante Supremo. Como é que eu vou aceitar uma ordem de um General, que não recebeu, que não aceitou a ordem do Comandante. Pelo amor de Deus, Cidão. Pelo amor de Deus, faz alguma coisa, cara. Convence ele a fazer", disse Lawand em um dos áudios, segundo transcrição da PF.
No celular do ex-assessor de Bolsonaro, há ainda material com a tese do advogado e professor emérito da Universidade Mackenzie Ives Gandra Martins, segundo a qual o artigo 142 da Constituição permitiria uma intervenção das Forças Armadas em caso de conflito entre os Três Poderes.
Segundo a PF, os estudos de Ives Gandra "serviram de fundamento para a confecção de uma minuta de decretação de Estado de Sítio e Garantia da Lei e da Ordem - GLO, identificada no aplicativo WhatsApp de Mauro Cid",
O delegado Fabio Shor, responsável pelo caso, afirma que o material encontrado no celular de Cid aponta para a tentativa "materialização no mundo real dos objetivos" antes defendidos nas redes pela associação criminosa investigada no inquérito das milícias digitais.
Nesse inquérito são investigados Cid, Jair Bolsonaro, Anderson Torres e outros bolsonaristas envolvidos em eventos antidemocráticos como a live de 29 de julho de 2021 em que Bolsonaro atacou as urnas eletrônicas, no vazamento do inquérito sigiloso do ataque hacker ao TSE e na organização do 7 de setembro de 2021 e 2022.
"A milícia digital reverberou e amplificou por multicanais a ideia de que as eleições presidenciais foram fraudadas, estimulando aos seus seguidores "resistirem" na frente de quarteis e instalações das Forças Armadas, no intuito de criar o ambiente propício para uma intervenção federal comandada pelas forças militares", diz a PF.
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