Mortes por febre maculosa assustam moradores e comerciantes em Campinas



FRANCISCO LIMA NETO
SÃO PAULO, SP

Na quinta (15) chuvosa, a vida seguia seu rumo normalmente em Joaquim Egídio, Campinas, interior de São Paulo. Grupinhos se formavam embaixo de alguns toldos nas calçadas e um dos assuntos invariavelmente era o surto de febre maculosa, que tornou o distrito “famoso da noite para o dia” em razão das quatro mortes causadas pela doença.
O clima entre os moradores de Joaquim, onde fica a fazenda Santa Margarida, epicentro do surto de febre maculosa em Campinas, é de apreensão devido aos óbitos. Entre comerciantes, o sentimento é de desconfiança e medo de que clientes sumam da região.
A prefeitura afirmou que tomou as medidas necessárias para enfrentar a doença.
Joaquim Egídio, que tem uma grande área rural, reúne cerca de 5.000 habitantes, segundo sua subprefeitura. Aos finais de semana, a região recebe ainda outras 5.000.
“O pessoal está com medo, mas é mais quem vem de fora. A gente que é daqui já está acostumado, não muda a rotina”, afirmou a operadora de produção Sonia Moraes, 50, enquanto deixava uma fazenda do distrito.
A garçonete Adriana Faria, 58, disse que a mãe de 81 anos está receosa, diferentemente dela. “Minha mãe é uma pessoa mais velha e está com medo. A gente sempre tem receio, principalmente na época da seca porque sabe que tem mais carrapato, mas não estou com medo porque essa doença existe há bastante tempo.”
A diarista Vilma Fernandes, 57, que trabalha no centro do distrito e mora em uma fazenda há 15 anos, onde o filho trabalha, pensa em deixar a região. “O povo sempre comenta que tem épocas que precisa ter muito cuidado, mas de morte nunca ouvi falar. Estou realmente preocupada, com vontade de ir embora completamente, mas não tem como. Nem sei como que se lida com isso.”
Segundo uma mulher que vive e trabalha na Fazenda Santa Margarida, no local moram sete funcionários e algumas crianças e nunca houve uma situação como a de agora. Ela, que pediu para não ser identificada, afirmou que todos estão com medo.
A fazenda fica em um condomínio de fazendas e sítios, com muita vegetação ao redor, cortadas por cursos d’água e dezenas de capivaras.
A reportagem circulou por diversos bairros do distrito e não localizou nenhuma placa indicativa da possível presença de carrapatos e sobre os riscos de contato.
Entre os comerciantes do circuito gastronômico de Joaquim, o medo é de perder clientela e sofrer prejuízo em um momento em que ainda tentam se recuperar dos efeitos da pandemia de Covid.
Sandra Marques, 65, dona do Cabrita Café, atribuiu as mortes à falta de informação. O estabelecimento dela fica em uma área de preservação ambiental, com o ribeirão das Cabras ao fundo. “As pessoas chegam aqui e a primeira coisa que querem fazer é tirar o sapato e ficar pisando na grama. A gente tinha um quadro ‘ponha o pé na grama, para recarregar, trocar energia’. Mas vamos ter cautela e não facilitar.”
Ela retirou a placa. Nos quadros do ambiente, desenhou um carrapato e escreveu informações sobre e febre maculosa e como proceder em caso de sintomas. “Informação é fundamental, é educacional, você tem que saber se tipo de roupa usar, por exemplo, ao entrar numa área verde, prestar atenção ao corpo.”
Na avaliação de Sandra, a partir deste final de semana o comércio deve sentir os efeitos do surto.
“Joaquim vai esvaziar, os turistas vão recuar, principalmente quem vem aos restaurantes, aos cafés. Isso acontecerá por um tempo, mas, depois que tiverem informação, acredito que vão retornar.”
A Abrasel (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes) Regional Campinas e a Adegas (Associação dos Dirigentes de Estabelecimentos de Gastronomia), do núcleo de Sousas e Joaquim Egídio, sugeriram aos comerciantes que sigam as orientações da prefeitura e da Secretaria da Saúde e que façam a manutenção das áreas abertas e reforço de pulverização em seus estabelecimentos. Além disso, as entidades pediram que orientem e disponibilizem informações a funcionários e clientes.
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