Por Edu Mota, de Brasília
Foto: Gustavo Alcântara/CNI
O trem está passando, há muito trabalho à frente e essa pode ser a última oportunidade para essa geração conseguir elevar o patamar da indústria brasileira. Essas foram algumas palavras recorrentes tanto no discurso de posse como na entrevista coletiva do novo presidente da Confederação Nacional da Indústria, o baiano Ricardo Alban, de 64 anos.
Alban, que presidiu a Federação das Indústrias do Estado da Bahia por nove anos, tomou posse no comando da mais poderosa entidade de representação da indústria brasileira em evento realizado na noite desta terça-feira (31), em Brasília. Ricardo Alban substitui na presidência da CNI o mineiro Robson Andrade, que esteve à frente da entidade por três mandatos consecutivos, totalizando 13 anos de gestão.
Em seu discurso de posse, Ricardo Alban disse que a nova diretoria da CNI assume em um momento que exige mudança de mentalidade para que não sejam desperdiçadas as oportunidades atuais de alavancagem da indústria nacional. Alban afirmou que se o Brasil e a indústria estão mudando, a CNI também precisa seguir a rota da mudança.
“Não podemos desperdiçar as oportunidades atuais. Não temos esse direito. Se mudou o Brasil e a indústria está mudando, então a CNI tem que mudar também. E a mudança tem a ver com a nova mentalidade no caminho da neoindustrialização. Precisamos de novas abordagens, e a nova conjuntura do País nos oferece a chance de, com muito trabalho, elevarmos a indústria com foco na competitividade e na produtividade”, disse o presidente.
O evento de posse da nova diretoria contou com a presença do vice-presidente e ministro da Indústria, Geraldo Alckmin, do presidente da Câmara, deputado Arthur Lira (PP-AL), do governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues, do prefeito de Salvador, Bruno Reis, além dos governadores do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, de Minas Gerais, Romeu Zema, e do Ceará, Elmano de Freitas. Também estiveram presentes inúmeros parlamentares, ministros, embaixadores, autoridades do governo, representantes de federações da indústria dos 27 estados, empresários, industriais, entre tantas pessoas.
Após elogiar, em seu discurso, a iniciativa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de recriar o Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços, Ricardo Alban disse que o momento atual é mais do que propício para a promoção da chamada neoindustrialização. Segundo ele, a revolução tecnológica em curso no País e a necessária descarbonização da economia são janelas de oportunidades que devem ser aproveitadas pelo Brasil.
“Para isso, precisamos de capacidade em inovação, em pesquisa e desenvolvimento, para absorvermos e desenvolvermos tecnologias para que o país cresça, crie empregos, amplie sua presença no comércio mundial e reduza as desigualdades sociais”, afirmou.
O novo presidente da CNI disse ainda que a indústria brasileira precisa ser revigorada e que a instituição trabalha para isso.
“Já temos profissionais experientes para elaborar e distribuir riquezas pelo Brasil. Precisamos criar também espaços para que mulheres tomem posse como lideranças institucionais. Temos a matriz energética mais limpa que nossos competidores, democracia consolidada, população trabalhadora e um governo federal novo”, afirmou.
Ao falar no evento, o vice-presidente Geraldo Alckmin disse que o Brasil será o protagonista na indústria da economia verde. Alckmin afirmou que a reforma tributária vai estimular a indústria, que, segundo ele, está atualmente “super tributada”. O vice-presidente também defendeu a queda de juros: “O juro está caindo. Esperamos que caia mais ainda. Precisa cair mais depressa”, disse Alckmin, lembrando a reunião do Copom, nesta quarta (1º), quando será decidido novo corte na taxa Selic.
Já o presidente da Câmara, Arthur Lira, afirmou que o Congresso Nacional vai continuar a desenvolver políticas públicas para que os setores da indústria possam se desenvolver, e que a CNI é significativa para o desenvolvimento do Brasil.
“O setor industrial desempenha um papel vital na economia brasileira. Em 2022 o setor industrial representou 24% do PIB brasileiro. Isso enfatiza a relevância do setor”, disse Lira, que citou a ausência do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG: “Esperava aqui no discurso o presidente Pacheco”, afirmou.
Se despedindo do cargo após 13 anos no comando da instituição, Robson Braga de Andrade disse que a CNI começa um novo clico com a presidência de Alban e agradeceu o tempo à frente da empresa.
“Sou grato aos 13 anos que aqui trabalhei e ao governo federal, bem como ao Congresso Nacional, com quem tivemos uma bela parceria. Nesse período o país passou por turbulências econômicas, mas nunca renunciamos a crença de que juntos somos capazes de estruturar um país que desejamos as nossas gerações”, disse.
Quem é o novo presidente da CNI
Ricardo Alban, 64 anos, presidiu a FIEB por 9 anos e foi presidente do Centro das Indústrias do Estado da Bahia (CIEB) entre 2018 e 2023. Ele é formado em Engenharia Mecânica pela Universidade Federal da Bahia e Administração de Empresas pela Escola de Administração de Empresas da Bahia. O novo presidente da CNI trabalhou no Citibank no início dos anos 1980 e, desde 1987, é sócio-diretor da Biscoitos Tupy, tradicional fábrica de alimentos baiana fundada por sua família.
Sob a liderança de Ricardo Alban, a FIEB ganhou envergadura e eficiência, atestadas pelo aumento significativo na prestação de serviços à indústria baiana. A gestão corporativa foi um dos grandes focos de sua administração. A FIEB publica balanços auditados em grandes jornais e órgãos de controles nacionais como CGU e TCU analisam seus editais.
A inovação foi outra frente que ganhou destaque na gestão de Alban à frente da FIEB, com iniciativas de incentivo à pesquisa e desenvolvimento (P&D) e fomento à energia limpa. A FIEB contribuiu para criar na Bahia um hub para a nova indústria, baseada em inovação, P&D e energia limpa, por meio do SENAI Cimatec, Cimatec Park e ações como a adesão ao Pacto Global. Nesse contexto, o destaque é o Cimatec Park, inaugurado em 2019 numa área de 4 milhões de m² no polo industrial de Camaçari, com investimentos de cerca de R$ 100 milhões.
Ao longo da trajetória profissional, Alban se dedicou à promoção da indústria por meio de participação ativa em entidades empresariais e de desenvolvimento regional. Ele é vice-presidente da CNI (2018/2023), vice-presidente da Associação Nacional da Indústria de Biscoitos; presidente do Sindicato da Indústria do Trigo, Milho, Mandioca, Massas Alimentícias e de Biscoitos do Estado da Bahia; membro do Conselho Nacional do SESI; membro da Associação Nordeste Forte; membro titular do Conselho Diretor do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT); membro do Conselho de Administração da Renova, do Conselho de Administração da Cetrel e do Conselho Consultivo Agro da Unigel.