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OMS estima aumento de diagnósticos da doença nas próximas décadas. População deve redobrar atenção aos fatores de risco.
O câncer é uma das principais causas de morte no mundo e exigirá atenção redobrada da população nas próximas décadas. A estimativa da Organização Mundial da Saúde (OMS) é que mais de 35,3 milhões de novos casos da doença surjam até 2050, o que corresponde ao aumento de quase 80% quando comparado aos diagnósticos de 2022.
O tabaco, o álcool e a obesidade são considerados fatores de risco para o desenvolvimento da doença, conforme a OMS. Além das questões relacionadas ao estilo de vida, a poluição atmosférica é um fator ambiental que também pode impulsionar novos casos de câncer. Segundo a organização, tudo isso pode provocar alterações no DNA das células, favorecendo o surgimento de tumores malignos em diferentes órgãos do corpo.
A médica oncologista, Amanda Gomes, reitera que o aumento dos casos de câncer está diretamente relacionado a esses fatores, que podem estar incluídos no dia a dia de boa parte da população. “A gente não tem como dissociar esse aumento com as mudanças recentes no nosso estilo de vida”, explicou em entrevista à imprensa.
Estudo conduzido pelo Instituto Nacional de Câncer (Inca) revelou que, entre 2023 e 2025, a estimativa é de mais de 700 mil novos diagnósticos da doença no Brasil. Entre os homens, os tipos mais prevalentes incluem câncer de próstata, câncer no reto e câncer de pulmão, nesta ordem. Já entre as mulheres, os mais diagnosticados são câncer de mama, câncer de cólon e reto e câncer de colo de útero.
Atenção aos sinais
Os sintomas da doença variam de acordo com o órgão afetado. Por isso, a recomendação das autoridades de saúde é dar atenção às alterações físicas ou funcionais do organismo. De acordo com o Inca, quanto mais cedo é feito o diagnóstico de câncer, maiores são as chances de cura e melhor será a qualidade de vida do paciente durante o tratamento.
Segundo informações do Ministério da Saúde, os sintomas do câncer de próstata, o mais incidente entre os homens, englobam dificuldade para urinar, fluxo urinário fraco, frequência urinária aumentada, principalmente à noite, e presença de sangue na urina ou no sêmen.
Já o câncer de mama, o tipo mais comum entre as mulheres, se manifesta através de nódulos na mama ou axila, alterações no tamanho ou formato da mama, mudanças na pele, como vermelhidão ou descamação, e secreção mamária anormal.
Hábitos nocivos estão associados à doença
Paralelamente ao crescimento do número de casos de câncer no Brasil, a pesquisa realizada pelo inquérito nacional, o Covitel, revela aumento na taxa de abuso de álcool entre os adultos do país. O estudo mostra que 4% desta parcela da população, o equivalente a 6 milhões de pessoas, estão nesta faixa de consumo.
Os parâmetros para o levantamento seguiram as definições da OMS sobre o consumo abusivo de bebidas alcoólicas. De acordo com a organização, o abuso é caracterizado pela ingestão de mais de sete doses de álcool por semana, para mulheres, e mais de 14, para homens. Entre os tipos de câncer frequentemente associados ao consumo de bebidas alcoólicas estão os que atingem o fígado e a boca.
O presidente da Sociedade Brasileira de Patologia (SBP), Clóvis Klock, explica que a prevenção é essencial. “Se puder não fazer uso, independente de datas comemorativas ou eventos, melhor para o nosso organismo”, afirmou em entrevista à imprensa.
Clóvis também fala sobre como o tabagismo também pode ser prejudicial ao organismo. “O cigarro comum, assim como essa nova onda de cigarros eletrônicos, todos estão ligados diretamente a quase todos os tipos de câncer. Por isso, devemos focar nossos esforços na prevenção e para que, principalmente, os jovens não adquiram esse hábito.”
Segundo informações publicadas pela Sociedade Brasileira de Clínica Médica (SBCM), pessoas que fumam têm 25 vezes mais chances de desenvolver câncer de pulmão. Os dados mais recentes do Atlas de Mortalidade por Câncer revelam que 28.620 pessoas morreram por conta da doença no país, em 2020. Os sinais de câncer de pulmão incluem tosse persistente, presença de sangue no escarro, dor no peito, falta de ar, rouquidão, perda de peso inexplicável e fadiga crônica.
Klock recomenda a prática de exercícios e o fim de uma vida sedentária para evitar o câncer, bem como complicações cardiológicas e cardiovasculares. “Além disso, é imperativo uma boa alimentação, com atenção ao consumo excessivo de carne vermelha e ao balanceamento das refeições com uma maior ingestão de fibras, presentes em frutas, legumes e verduras.”
Países com baixo IDH vão sofrer mais
O aumento dos casos de câncer não vai afetar todos os países da mesma forma. A OMS prevê que os países com maior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) terão mais casos novos de câncer, mas os países mais pobres terão mais mortes pela doença.
Em entrevista à imprensa, o chefe da União Internacional para o Controle do Câncer, Cary Adams, defendeu que “não é apenas uma questão de recursos, mas de vontade política”. Ele ressaltou que é preciso investir em prevenção, diagnóstico precoce, tratamento adequado e no cuidado paliativo dos pacientes com câncer.
Para Cary, os países de baixa e média renda, que têm maior dificuldade de acesso e financiamento, são os que merecem maior atenção. “O câncer é um problema de todos, e todos devemos fazer parte da solução.”