Após a folia na capital, tropas do PT e do União Brasil intensificam costuras para acelerar a montagem do tabuleiro eleitoral em Salvador
O prefeito Bruno Reis (União Brasil) e o vice-governador Geraldo Jr. (MDB)
Dicas publicadas originalmente no Jornal Metropole
Em ano de eleições na Bahia, a disputa pelo poder começa de fato quando o Carnaval termina. De um lado, está o grupo liderado pelo PT, que comanda o governo do estado há quase duas décadas e chega à pista de corrida impulsionado pelo bom desempenho nas urnas em 2022. O que inclui a permanência no Palácio de Ondina até 2026 e o retorno do maior símbolo do partido, Luiz Inácio Lula da Silva, à Presidência da República. Do outro, o bloco do União Brasil, liderado pela principal força política de oposição, o ex-prefeito ACM Neto, cuja tropa está desde 2013 à frente da prefeitura da capital, justamente o grande palco das articulações que vêm se desenrolando após a folia.
No momento, as costuras giram em torno de dois eixos: definição do nome que ocupará a vaga de vice dos dois candidatos mais competitivos - o prefeito Bruno Reis (União Brasil) e o vice-governador Geraldo Jr. (MDB) - e consolidação do arco de partidos aliados. No caso de Bruno, os aliados apontam a vice-prefeita Ana Paula Matos e o deputado federal Leo Prates, ambos do PDT, como favoritos. Antes do Natal, Ana Paula tinha apoio majoritário da direção estadual do partido. No entanto, a maré virou a favor de Leo Prates nos últimos dias, a reboque das articulações conduzidas pelo ex-deputado José Carlos Araújo, secretário-geral do PDT da Bahia.
"Se Leo for opção do PDT e do grupo de Bruno, pode ter certeza de que não virá de mim o veto", disse o deputado federal Félix Mendonça Júnior, presidente estadual da legenda. Até então, o parlamentar mantinha apoio incondicional à vice-prefeita, mas admite que as condições atuais de temperatura e pressão se mostram bastante favoráveis a Prates. Some-se a isso o capital de 88 mil votos conferidos a ele em Salvador na última eleição para a Câmara dos Deputados, herança que interessa muito a Félix Júnior, e o fato de que Araújo, primeiro suplente do PDT, é quem vai ocupar a vaga de Prates no Congresso caso ele vire vice-prefeito e está formada a tempestade perfeita.
Ponto sensível
Indagado pelo Jornal da Metropole sobre o eventual favoritismo no páreo com Ana Paula, Leo Prates desconversou: "Continuo achando apenas que o PDT tem dois excelentes nomes. Ela tem total legitimidade, inclusive, já ocupa o cargo hoje. Assim como eu tenho também. Mas não cabe a nós dois decidir. Acredito que no tempo certo Bruno vai escolher o nome que consiga agregar mais ao projeto". A definição virou ponto sensível nos planos do União Brasil para a capital porque em 2022 a escolha da empresária Ana Coelho (Republicanos) como candidata a vice de ACM Neto ao governo foi apontada por líderes da base aliada e da oposição como um dos fatores que levaram à derrota do ex-prefeito em 2022.
O cenário em relação à chapa de Geraldo Jr. está bem menos claro que o do adversário. Na imensa maioria da base do PT, a tese predominante é a de que a vaga de vice seja ocupada por uma mulher e com histórico na esquerda. Entre as quais, a petista Fabya Reis, cria do MST, e a socióloga ngela Guimarães (PCdoB), respectivamente, secretárias estaduais de Assistência e Desenvolvimento Social e de Promoção da Igualdade. Mas nada garante que o espaço não fique com um homem. No caso, o vereador Silvio Humberto (PSB). Ou ainda com um evangélico, como sugeriu recentemente o governador Jerônimo Rodrigues.
Critérios de escolha
“A questão é agregar. Logicamente, o ideal é se você pudesse escolher uma vice que fosse mulher, negra, evangélica. Mas tem o respaldo político, o respaldo popular. Então, o critério da escolha vai ser basicamente aquele ou aquela que agregará mais apoio, mais votos”, destaca o ex-deputado Lúcio Vieira Lima, presidente de honra do MDB baiano. Enquanto o nome do vice não vem, Lúcio se dedica aos cálculos. Para ele, a estratégia e a estrutura de apoio montada pelo partido em conjunto com siglas da base garantirão ao grupo os 14 pontos percentuais que levaram Bruno Reis a uma vitória ainda no primeiro turno sobre Major Denice (PT) em 2020.
A candidatura de Geraldo Jr. representa uma mudança de estratégia do PT para a sucessão em Salvador. Ao longo da história, o partido sempre estimulou mais de um candidato com o objetivo de pulverizar votos e levar a disputa ao segundo turno. Nas duas últimas eleições municipais, a tática não obteve o resultado esperado, e a banda do União Brasil tocou antes da hora desejada, com as derrotas da deputada federal Alice Portugal (PCdoB) e Major Denice ainda no primeiro round. Presidente do PSD em Salvador, o vereador Edvaldo Brito acredita que esse é o momento ideal para não adotar múltiplas campanhas. O que, segundo ele, poderia enfraquecer a corrente "até mesmo do ponto de vista ideológico".
Dúvida no xadrez partidário e dificuldades
Às vésperas da abertura da janela legal de trocas partidárias, que começa em março, os dois cortejos eleitorais na capital praticamente montaram o tabuleiro partidário para a disputa de outubro. Excluindo os nanicos e siglas de menor expressão, Geraldo Jr. já conta com o apoio oficial, além de MDB e PT, do PSD, PCdoB, PSB, Avante, PV e Podemos, que incorporou o PSC ano passado, refez os laços com a base governistas e foi uma das primeiras legendas a anunciar publicamente apoio à candidatura do emedebista a prefeito. Já Bruno Reis, fora União Brasil e PDT, conta também com PSDB, Cidadania, Republicanos, PRD (fusão entre PTB e Patriota) e o PL, liderado na Bahia pelo ex-ministro João Roma, que em 2022 concorreu contra ACM Neto, de quem se tornou desafeto após entrar para o governo Jair Bolsonaro.
Resta apenas uma grande dúvida: o PP, que rompeu com o PT antes das eleições de 2022. A história ficou marcada na memória recente da política baiana: o então vice-governador João Leão, que era também presidente do partido no estado, não gostou de ficar sabendo, pelos microfones da Rádio Metropole, que o então governador Rui Costa havia desistido de renunciar para disputar uma vaga no Senado e, sendo assim, não assumiria o Palácio de Ondina. Em seguida, Leão anunciou apoio a ACM Neto. A decisão, porém, passou longe da unanimidade. Parte das lideranças da sigla se manteve leal ao hoje governador Jerônimo Rodrigues e assim quer seguir.
Mesa de negociações
"A gente ficou de sentar nos próximos dias para definirmos como vamos caminhar nas eleições das 30 maiores cidades, incluindo Salvador, e no restante do estado. Até o momento, o PP jamais sentou para falar sobre isso. Ou seja, falta conversar com os parlamentares da Câmara e da Assembleia Legislativa, vereadores e dirigentes do partido para que a gente tome uma decisão em conjunto. Foi esse o meu compromisso", afirmou o deputado federal Mário Negromonte Júnior, presidente da legenda na Bahia. "Existe uma razão para Cacá Leão (ex-deputado e secretário municipal de Governo) estar na gestão de Bruno. Os seis vereadores que temos em Salvador são alinhados ao prefeito", emendou, sem confirmar se a declaração era indício de manutenção da aliança na capital.
Em meio ao fechamento da composição partidária para a batalha pelo Palácio Thomé de Souza, tanto Bruno quanto Geraldo Jr. terão que superar dificuldades antes do início da campanha. "A meu ver, o prefeito só tem como grande desafio manter em alta o ritmo de obras entregues. Acho que Bruno vem trabalhando muito e com habilidade para evitar rachas no grupo, fator fundamental para ele", avalia o deputado estadual Tiago Correia, presidente do PSDB baiano. Na trincheira inversa, o vice-governador precisará se esforçar para seduzir o eleitorado de esquerda e impedir que votos da militância ligada ao PT migrem para o candidato do Psol a prefeito, Kléber Rosa.
Por: Jairo Costa Jr. e Mariana Bamberg
Foto: Beto Jr./Secom/Rafael Martins/Gov