Foto: Mandel NGAN / AFP
FERNANDA PERRIN
WASHINGTON, EUA (FOLHAPRESS)
Uma investigação sobre a posse de documentos confidenciais por Joe Biden após ele deixar o cargo de vice-presidente, em 2017, terminou sem resultar em acusações contra o democrata. O relatório sobre o caso, porém, menciona dificuldades de memória que têm potencial de prejudicar mais o mandatário do que um processo na Justiça.
“Ele não se lembrava de quando era vice-presidente, esquecendo no primeiro dia da entrevista quando seu mandato terminou (‘se foi em 2013, quando parei de ser vice-presidente?’), e esquecendo no segundo dia da entrevista quando seu mandato começou (‘em 2009, ainda era vice-presidente?’). Ele não se lembrava, mesmo num espaço de vários anos, quando seu filho Beau faleceu”, diz o relatório assinado pelo conselheiro especial Robert Hur, do Departamento de Justiça, divulgado na quinta (8).
Biden concedeu as entrevistas em 8 e 9 de outubro, logo após os ataques pelo grupo terrorista Hamas contra Israel, no dia 7. As falhas de memória foram uma das razões mencionadas pelo conselho especial para não apresentar acusações contra o democrata sobre seu manejo dos documentos, apesar de ter encontrado evidências de irregularidades.
“Consideramos que, em um julgamento, o Sr. Biden provavelmente se apresentaria ao júri, como fez durante nossa entrevista com ele, como um homem idoso, simpático e bem-intencionado, com uma memória fraca”, escreve Hur.
“Seria difícil convencer um júri de que deveriam condená-lo, sendo ele um ex-presidente já na casa dos oitenta anos, por um crime grave que requer um estado mental de intencionalidade.”
Já os advogados do presidente afirmam que a descrição feita no relatório de sua memória não é correta. Em resposta enviada ao conselho especial, Richard Sauber e Bob Bauer dizem que não veem esse tratamento como “preciso ou apropriado”.
“O relatório usa linguagem altamente preconceituosa para descrever uma ocorrência comum entre testemunhas: a falta de lembrança de eventos de anos atrás”, afirmam.
Os advogados afirmam ainda que o fato de a entrevista ter acontecido logo após os ataques de 7 de outubro deve ser visto como um atenuante.
“Há evidências suficientes da entrevista de que o presidente se saiu bem ao responder às suas perguntas sobre eventos de anos atrás ao longo de cinco horas. Isso é especialmente verdadeiro nas circunstâncias, as quais você não menciona em seu relatório, de que a entrevista dele começou no dia seguinte aos ataques de 7 de outubro em Israel”, escrevem.
“Na preparação para a entrevista, o presidente estava conduzindo chamadas com chefes de Estado, membros do gabinete, membros do Congresso e se reunindo repetidamente com sua equipe de segurança nacional.”
Os apontamentos sobre a memória do presidente já estão sendo comentados entre apoiadores de Donald Trump, que usam o trecho do relatório –que tem no total mais de 300 páginas– como evidência de uma das principais estratégias de ataque dos republicanos ao democrata: sua idade.
Para 59% dos americanos, a capacidade mental e física do democrata para exercer um segundo mandato é uma grande preocupação, segundo levantamento da NBC divulgado no domingo. Outra pesquisa, essa da Associated Press-Norc, mostra que 77% da população o vê como velho demais para ser eficiente por mais quatro anos.