Por Victor Hernandes
Foto: Divulgação
Um termo não tão discutido ganhou uma maior atenção e passou a ser debatido amplamente no Brasil, no início de março. Isso porque, a jornalista pernambucana Céu Albuquerque, se tornou a primeira pessoa do país a conseguir o registro como intersexo na certidão de nascimento.
O registro reconhecido pela Associação Brasileira Intersexo (Abrai), chega após a Organização Mundial da Saúde (OMS), informar que em todo o mundo 1,7% da população é considera pela intersexualidade. Diante de um tema que muitas pessoas ainda não conhecem e sabem a definição, a reportagem do Bahia Notícias entrevistou o médico urologista especializado em reconstrução genital, Ubirajara Barroso, para esclarecer o que é intersexo e desmestificar a condição.
O conceito intersexo antigamente era conhecido como “hermafrodita”. No entanto, a palavra ficou em desuso por ser considerada pejorativa e também pela diferença que existe entre os dois quesitos. Segundo o especialista, o termo trata de uma condição biológica de pessoas que têm variações corporais nas características sexuais inatas.
“Intersexo é uma condição biológica, portanto de nascença quando há alguma inconformidade entre como se apresentam as gônadas, o aspecto físico e o cromossoma. As gônadas são a parte do corpo que produzem estrogênio e testosterona, seja ovário na mulher ou testículo nos homens”, disse.
De acordo com Ubirajara, essas variações estão relacionadas a características sexuais, que não se enquadram nas normas médicas e sociais para corpos femininos ou masculinos.
“Fisicamente seria o aparelho genital externo. Na maior parte das vezes existe uma mistura das duas genitálias. Por exemplo, um aspecto de uma vagina que deveria ser formado por grandes lábios, acaba sendo formado por um falo, parecido com pênis, que tem glande,que tem o prepúcio. Muitas vezes nesses casos têm ausência do canal vaginal e com um aspecto um pouco mais parecido com pênis do que com uma vagina. Em um tempo atrás era chamado de ambiguidade genital, ou seja, uma uma característica para os dois órgãos genitais em um só”, explicou.
O médico pontuou que essas alterações nas pessoas podem ser hormonais, genitais ambíguos e apresentar outras diferenças anatômicas, ou ainda nascer com códigos genéticos diferentes do padrão. Em alguns casos, o corpo pode ser fisicamente feminino, mas o seu código genético ser XY (X é o cromossomo feminino e Y é o masculino). A alteração segundo o especialista pode influenciar a produção de hormônios.
Outro ponto alertado é sobre a identidade gênero. Independentemente da condição genética, cada pessoa terá a própria identidade de gênero.
“Intersexo é um guarda-chuva enorme de situações que são colocados no mesmo patamar apenas para facilitar uma definição, mas que cada condição é diferente da outra. Então a maior parte das pessoas que nascem com essa alteração do desenvolvimento sexual são pessoas que vão se ver como homens ou como mulheres e que uma pequena porção, principalmente aqueles que têm um diagnóstico mais tardio e que não não são tratados precocemente com hormônios, são pessoas que no futuro podem não se encaixar no gênero masculino ou no gênero feminino. Por isso que o acompanhamento médico e familiar é importantes, afirmou Ubirajara.
Outro exemplo de intersexualidade é a regressão testicular, hiperplasia adrenal congênita, síndrome de Klinefelter; síndrome de Turner; síndrome de Rokitansky, entre outras.
Entre as cirurgias e procedimentos de “reconstrução genital” mais comumente usadas estão labioplastias, vaginoplastias, gonadectomias (remoção de ovários ou testículos), “reparos” de hipospádias (abertura anormal da uretra), faloplastias e outras formas de cirurgias de aumento peniano, além de tratamento hormonal.
“Lá na Universidade Federal da Bahia nós atendemos gratuitamente mais de 500 crianças registradas com esse tipo de alteração. Todas as quintas-feiras discutimos os casos e temos inúmeros trabalhos publicados com técnica cirúrgicas autorais que são usadas ao redor do mundo”, indicou o especialista.