Após 78 mortes no RS, governo Lula fala em plano para evitar tragédias

Foto: Ricardo Stuckert / PR

O Rio Grande do Sul chegou, no domingo (5), à marca de 78 mortes em decorrência das fortes chuvas que atingiram a região ao longo da última semana. Em meio à pior tragédia climática já vista no estado, com todos os serviços básicos afetados, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou que vai destravar obstáculos da burocracia para garantir o socorro às vítimas e prometeu ações de longo prazo.
Em viagem ao Rio Grande do Sul pela segunda vez em uma semana, o presidente Lula prometeu neste domingo, após sobrevoo de áreas afetadas, a criação de um “plano de prevenção de acidente climático”.
“É preciso que a gente pare de correr atrás da desgraça. É preciso que a gente veja com antecedência o que pode acontecer de desgraça”, afirmou o presidente. O plano de prevenção, segundo Lula, deverá ser desenvolvido ministra Marina Silva (Meio Ambiente).
Acompanharam o presidente no sobrevoo o governador do estado, Eduardo Leite (PSDB), e os presidentes da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG).
“Não haverá impedimento da burocracia para que a gente recupere a grandiosidade desse estado”, prometeu o presidente, que ainda afirmou que o Brasil “deve muito” ao Rio Grande do Sul, sobretudo no desenvolvimento da sua agricultura.
Durante reunião no estado, Pacheco sugeriu um novo “orçamento de guerra”, aos moldes do que foi feito durante a pandemia de Covid-19, para a reconstrução do estado.
Pacheco afirmou que, em situações “de guerra”, não há “limitações” nem “restrições legais de tempos comuns”. O senador falou em buscar “soluções excepcionais e atípicas” e relembrou a PEC (proposta de emendas à Constituição) aprovada na pandemia.
“Há necessidade de retirar da prateleira e da mesa a burocracia, as travas, as limitações, para que nada falte ao Rio Grande do Sul para a sua reconstrução. Fizemos isso na pandemia, com muita altivez no âmbito do Congresso Nacional, com proposta de emenda à Constituição que apelidamos de PEC da Guerra. Inúmeras medidas legislativas excepcionais.”
Na mesma linha, Lira disse que vai se reunir com os líderes para encontrar uma resposta “dura, firme e efetiva, como foi na pandemia”. O deputado também afirmou que é preciso contar com a sensibilidade do ministro Fernando Haddad, da Fazenda —que acompanhava o grupo.
Ao todo, 341 municípios gaúchos foram afetados pelas enchentes —o que representa mais da metade do estado. Nessas localidades, a população está sem acesso a saúde básica, água potável, energia elétrica, telefonia, e as principais rodovias estão interditadas.
Além disso, a operação de 110 hospitais foi afetada 17 tiveram de suspender os atendimentos a pacientes, e 75 funcionavam apenas parcialmente, segundo boletim do governo estadual deste domingo.
O governador Eduardo Leite (PSDB), que acompanhou a visita de Lula, afirmou que os impactos das chuvas e enchentes trazem reflexos em cadeia para o estado, na distribuição de suprimentos e no colapso de serviços. São mais de cem pontos de bloqueio terrestre no estado, e o aeroporto de Porto Alegre está com atividades paralisadas.
Segundo Leite, serão necessárias diversas medidas para reconstrução do Rio Grande do Sul em um cenário de “pós-guerra”, incluindo linhas de crédito, planos de recuperação para a agricultura e medidas ambientais para recuperação de locais degradados.
As medidas, disse o governador, serão necessárias para auxiliar na reconstrução de um estado que ainda não se recuperou das enchentes de setembro e novembro do ano passado. “São dez eventos climáticos extremos em menos de um ano”, disse o governador.
O número de mortos pode aumentar ainda mais nos próximos dias, pois há um total de 105 desaparecidos, além de 175 feridos. De acordo com a Defesa Civil, há 18.487 desabrigados, instalados em alojamentos cedidos pelo poder público, e 115.844 desalojados.
Segundo o governo federal, mais de 20 mil pessoas foram resgatadas nas ações de socorro. A operação integrada de resgate envolve mais de mil profissionais das Forças Armadas, bombeiros, policiais e agentes da Defesa Civil de vários estados e municípios.
Em Canoas, moradores fizeram um cordão humano dentro da água para auxiliar as embarcações que a todo momento chegavam com pessoas resgatadas das áreas inundadas.
O desabastecimento de água afetava mais de 854 mil imóveis, ou 27% de todos os endereços atendidos pela empresa Corsan, e 424 mil domicílios estavam sem energia elétrica.
A situação é ainda pior na capital, Porto Alegre: 70% da população da cidade enfrenta desabastecimento de água, segundo o prefeito Sebastião Melo (MDB), após o rio Guaíba atingir 5,3 metros, o maior nível em sua história.
Para tentar reduzir o consumo de água, Melo pediu aos moradores da capital gaúcha que tenham casas no litoral que deixem a cidade por alguns dias. O trajeto da capital até as praias, no entanto, só pode ser feito pela RS-040, por Viamão, já que há interdições nas saídas da zona norte da cidade.
Os temporais ainda afetam o serviço de telefonia em várias cidades do estado. Neste domigo, a TIM informava que 34 municípios estavam sem serviços de telefonia e internet na manhã de domingo. O problema atingia a Vivo em 40 cidades, e a Claro em 24 municípios.
As aulas foram suspensas nas 2.338 escolas da rede estadual e quase 200 mil alunos foram impactados. Um total de 278 escolas tiveram sua estrutura danificada pela chuva.
Em todo o estado, os temporais também provocaram também danos e alterações no tráfego nas rodovias estaduais gaúchas. Segundo a última atualização, na noite deste domingo, eram 110 trechos em 61 delas, com bloqueios totais e parciais, entre estradas e pontes. Sete rodovias com bloqueios foram liberadas ao longo do sábado.
Segundo o governo gaúcho, duas barragens estavam em situação de emergência, com risco iminente de romperem.
Uma delas é a usina hidrelétrica 14 de Julho, entre os municípios de Cotiporã e Bento Gonçalves, que teve um rompimento parcial na última sexta-feira (3). Além disso, a barragem de São Miguel, também em Bento Gonçalves, estava em situação semelhante.
Outras cinco barragens no estado estavam em nível de alerta, que ocorre quando “as anomalias representam risco à segurança da barragem, exigindo providências para manutenção das condições de segurança”.
As chuvas que devastaram cidades do Rio Grande do Sul também chegaram a Santa Catarina e ao Paraná, causando outras três mortes.
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