CFM e associações médicas pedem à Anvisa fim da suspensão do uso de fenol

Por Danielle Castro | Folhapress

Foto: Marcelo Camargo / Agência Brasil

O CFM (Conselho Federal de Medicina), a SBD (Sociedade Brasileira de Dermatologia) e a SBCP (Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica) solicitaram à Anvisa (Agência Nacional de Vigilância) o fim da suspensão do uso do fenol no país.
As entidades protocolaram na última sexta-feira (19) um documento no qual apresentam evidências científicas da eficácia da substância no tratamento contra dor em diversas doenças, como câncer e neuralgia do trigêmeo, desde que aplicada por profissionais médicos. O relatório pede com urgência a revogação da Resolução 2384/24 de 25 de junho, que suspendeu o uso da substância.
O pedido das entidades inclui "cerca de 200 referências bibliográficas que comprovam cientificamente os diferentes usos seguros atribuídos ao fenol, desde que feito em obediência a normas e protocolos médicos estabelecidos". Usado por especialidades como urologia, neurologia, otorrinolaringologia, coloproctologia, oncologia e dermatologia, o fenol se destaca por suas finalidades "antissépticas e cauterizantes", diz o documento.
Não há prazo para um retorno sobre o pedido, mas o CFM e os conselhos já estiveram em reunião com a diretoria da Anvisa e estão em contato com o órgão para que haja celeridade na retomada do fenol. Para eles, a regulação da compra e dos usos do produto são alternativas melhores para lidar com os riscos da aplicação indevida.
"O que nós defendemos é que este procedimento de suma importância seja feito em ambiente adequado para segurança do paciente e com prescrição médica. Não podemos prejudicar os pacientes não fazendo uso desse produto", afirmou o presidente do CFM, José Hiran da Silva Gallo.
Além do rejuvenescimento prometido pela técnica de peeling, o fenol também é indicado para grandes tumores, sangramentos internos de proctologia e manejo de dores crônicas, como dor de membros fantasma, na próstata, miofascial e cística ou otalgia.
Em todos eles, incluindo o tratamento dermatológico estético, a recomendação das entidades médicas é que a aplicação seja feita por profissionais que conheçam as contra indicações e possíveis efeitos adversos.
"Os cirurgiões plásticos e diversas especialidades têm o direito de continuar usando [o fenol em tratamentos]. Suspender, como foi feito, é como dizer que esses médicos fizeram errado a vida toda, quando isso não é verdade", diz Heitor Gonçalves, presidente da SBD.
Gonçalves reforça ainda que o fenol deve ser aplicado apenas por um médico habilitado, mas, apesar de invasivo, às vezes é a alternativa mais segura para o paciente. "Na dermatologia, por exemplo, para dor intensa da hidradenite supurativa [processo inflamatório crônico], às vezes é necessário usar derivados de morfina, que causam dependência, mas o fenol regride sem esse efeito", diz Gonçalves.
Ele cita também o fenol como indicação de primeira escolha que simplifica procedimentos e evita riscos cirúrgicos em casos como remoção de verrugas persistentes recidivantes, matrizes de unhas ou granulomas na parte interna da boca causados por doenças como a infecção por HIV.

O QUE É PEELING DE FENOL

O tratamento estético com fenol pode ser feito por cirurgiões plásticos e dermatologistas especializados na técnica, em hospital ou ambulatório monitorado. A aplicação é feita em etapas para evitar altas concentrações e sobrecarga do coração, sendo indicada apenas para peles claras ou de baixa melanina.
O uso do peeling de fenol para rejuvenescimento da face começou na década de 1960, mas ganhou fama no Brasil com a técnica menos tóxica do médico José Kacowicz, consistindo em uma remoção química de camadas profundas de pele.
O pós-operatório é bem doloroso e semelhante à recuperação por uma queimadura profunda. O procedimento remove rugas, cicatrizes e manchas. O custo depende do tamanho da área que passa pela aplicação e fica na casa das dezenas de milhares de reais (podendo ultrapassar os R$ 30 mil).

MORTE DO EMPRESÁRIO POR USO DE FENOL

A decisão da Anvisa de suspender o uso de fenol ocorreu após a morte do empresário Henrique Chagas, 27. Ele fez o procedimento na clínica da influenciadora Natalia Fabiana de Freitas Antonio, que se apresenta como Natalia Becker. Ela não tem formação médica e aprendeu a aplicar o produto depois de fazer um curso online.
O laudo do IML (Instituto Médico Legal) apontou que Chagas teve uma parada cardiorrespiratória após um edema pulmonar agudo provocado pela inalação de fenol.
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