Por Ricardo Della Coletta e Renato Machado | Folhapress
Foto: Marcelo Camargo / EBC
O presidente Lula (PT) pediu uma mudança nos planos de sua viagem ao México para poder participar da posse da nova presidente do país, Claudia Sheinbaum.
Auxiliares do petista comunicaram autoridades mexicanas nesta semana que Lula gostaria de estar presente nas celebrações do início do governo de Sheinbaum, no dia 1º de outubro. Os dois governos, no entanto, estão há meses negociando os detalhes de uma visita oficial do petista à Cidade do México, prevista para 20 de setembro.
Como não haveria sentido em duas viagens ao mesmo país em tão pouco tempo, a ideia do Planalto é que Lula chegue à Cidade do México em 30 de setembro, último dia do mandato do atual presidente, Andrés Manuel López Obrador.
Isso possibilitaria uma reunião entre Lula e AMLO, como o líder mexicano é conhecido, nas últimas horas do fim de seu governo.
A confirmação da mudanças da agenda depende agora de uma concordância do governo do México.
A promessa de Lula de visitar AMLO é antiga, feita no início de 2023 durante uma ligação telefônica. A relação entre os dois líderes esquerdistas, no entanto, viveu altos e baixos desde então -e a prometida visita bilateral ainda não foi concretizada.
A maior decepção do governo Lula com AMLO ocorreu em 13 de agosto. Nesse dia, o mexicano disse que não iria mais conversar com Lula e com seu homólogo da Colômbia, Gustavo Petro, sobre a crise política na Venezuela.
Brasil, Colômbia e México promoviam uma ação diplomática conjunta desde o pleito na Venezuela em 28 de julho. O ditador Nicolás Maduro foi declarado vencedor por órgãos controlados pelo chavismo, mas o resultado foi imediatamente contestado pela oposição.
Os três países vinham pressionando para que o regime divulgasse as atas eleitorais que corroborariam o resultado -o que o governo venezuelano nunca fez. Com a saída do México, a iniciativa diplomática prosseguiu apenas com Brasil e Colômbia.
AMLO disse na ocasião que era preciso esperar a manifestação do TSJ (Tribunal Supremo de Justiça) da Venezuela, órgão máximo do Judiciário do país e controlado pelo chavismo, sobre o resultado do pleito. A corte declarou nesta quinta que Maduro foi o vencedor, mas a crise segue longe de uma solução.
Assessores de Lula que acompanham a organização da viagem dizem que a proposta de mudança de data não tem relação com AMLO ter retirado seu país da ação diplomática com Brasil e Colômbia.
O resultado prático da troca de datas, no entanto, deve ser um esvaziamento da agenda na Cidade do México. A participação de dignitários estrangeiros na posse de Sheinbaum é cerimonial. A expectativa de pessoas que acompanham o tema é que mesmo a possível reunião com AMLO no dia anterior tenha caráter mais simbólico.
Um interlocutor que segue os preparativos diz que a perspectiva de uma viagem oficial com poucos anúncios pode ter motivado a decisão de Lula de substituir uma viagem oficial pela ida à posse Sheinbaum.
De acordo com essa pessoa, as negociações das possíveis entregas entre os governos do México e do Brasil têm caminhado a passos lentos.
O plano inicial do Planalto era que Lula se encontrasse com AMLO em 20 de setembro na Cidade do México. De lá, ele seguiria direto para Nova York, onde participa da abertura da Assembleia-Geral da ONU.