Por Folhapress
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Em um gesto simbólico, o Parlamento Europeu reconheceu, na quinta-feira (19), o ex-diplomata Edmundo González como "presidente legítimo e democraticamente eleito" da Venezuela no último pleito presidencial do país sul-americano, no final de julho.
A resolução, aprovada pelo Poder Legislativo da União Europeia por 309 votos a favor, 201 contra e 12 abstenções, foi uma vitória do PPE (Partido Popular Europeu) —representante da direita tradicional que, mesmo tendo o maior número de cadeiras na Casa, aliou-se à ultradireita para aprovar o documento após desistir de negociar com as outras forças.
ponto de rompimento no acordo foi justamente o reconhecimento de González como presidente, estratégia usada com o opositor Juan Guaidó em 2019 e atualmente vista como pouco efetiva por parte dos parlamentares.
Assim, o texto tenta romper a posição que o bloco europeu adotou até agora de não reconhecer a vitória do ex-diplomata nem a de seu adversário no pleito, o ditador Nicolás Maduro. Embora peça à União Europeia e seus países-membros que sigam a decisão, o documento não tem força para obrigar as partes a seguir essa posição.
O opositor de 75 anos gravou um vídeo no qual agradece o órgão. "Os venezuelanos queremos o mesmo que os europeus conseguiram alcançar no nosso tempo: viver em liberdade e democracia sob um Estado de Direito", afirmou ao ler um comunicado pausadamente, como normalmente faz.
"Como presidente eleito, agradeço o Parlamento Europeu por esse reconhecimento que me transcende; é o reconhecimento da vontade soberana do povo da Venezuela e da estrondosa voz de uma maioria que exige que se respeite a verdade", escreveu o ex-diplomata no texto que acompanha o vídeo.
O venezuelano está desde o início do mês na Espanha, onde pediu asilo político após ser alvo de um mandado de prisão em seu país natal, também condenado pelo Parlamento na resolução. A votação desta quinta, aliás, reprisa o que ocorreu na Câmara dos Deputados espanhola há uma semana, quando a Casa aprovou uma moção na qual reconhece a vitória de González a despeito da votação contrária do PSOE (Partido Socialista Operário Espanhol) do primeiro-ministro Pedro Sánchez.
O regime venezuelano acusa o opositor de conspiração, usurpação de funções, incitação à rebelião e sabotagem em um caso que investiga a oposição por publicar as atas de votação do pleito. De acordo com os documentos, que foram verificados por diversas organizações independentes, González venceu as eleições —resultado que contraria o CNE (Conselho Eleitoral Nacional), órgão aparelhado pelo chavismo e mencionado na resolução aprovada pelo bloco europeu nesta quinta.
De acordo com o texto, o Parlamento "condena veementemente e rejeita totalmente a fraude eleitoral orquestrada pelo Conselho Eleitoral Nacional controlado pelo regime, que se recusou a tornar público o resultado oficial".
O órgão pede ainda para a União Europeia restabelecer sanções contra os membros do conselho, que haviam sido levantadas como parte de um acordo para tentar alcançar eleições justas, e solicita que as sanções contra Maduro e seu círculo próximo sejam prorrogadas e expandidas.
A resolução também condena as violações de direitos humanos que ocorrem no país e saúda o papel que o Brasil, a Colômbia e o México vêm desempenhando nas negociações. Governados por líderes de esquerda, os três países vinham tentando manter uma ponte de diálogo com o regime —algo que tem se provado cada vez mais desafiador.
Em agosto, porém, o presidente mexicano, Andrés Manuel López Obrador, suspendeu as negociações e afirmou que não conversaria mais com seus homólogos do Brasil e da Colômbia.