Estudo liga Covid, herpes e outras infecções virais ao risco de demência

Por Raíssa Basílio | Folhapress

Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil

Infecções comuns, como gripe, herpes e resfriados, podem afetar não apenas o corpo, mas também o cérebro. Um estudo recente, publicado na revista Nature Aging, indica que essas infecções podem estar associadas à redução do tamanho cerebral ao longo do tempo, aumentando potencialmente o risco de demência, que afeta memória e raciocínio.
Os pesquisadores identificaram que pessoas com histórico de doenças infecciosas apresentaram maior atrofia em áreas específicas do cérebro, especialmente no lobo temporal, responsável por funções cognitivas críticas.
A pesquisa analisou quase 770 mil participantes de diferentes partes do mundo ao longo do tempo para entender como diferentes fatores, como infecções, afetam a saúde cerebral e geral.
O estudo foi realizado pelo Instituto Nacional de Envelhecimento (NIA), do NIH, em colaboração com a Universidade de Helsinque, o Instituto Finlandês de Saúde Ocupacional, a Universidade da Pensilvânia, o Centro Médico da Universidade de Vanderbilt e a Universidade Johns Hopkins e envolveu especialistas dos Estados Unidos e da Finlândia nas áreas de neurologia, geriatria, imunologia e genética.
Entre os 15 tipos de infecções estudadas, a gripe foi associada a diminuição do volume cerebral em áreas ligadas à memória e visão, aumentando o risco de demência.
Segundo o neurologista Augusto Penalva, do Hospital Israelita Albert Einstein, "essa redução pode afetar o cérebro todo (atrofia global) ou apenas algumas partes, como a região frontal, o cerebelo ou o tronco cerebral (atrofia localizada)".
A Covid também faz parte desse escopo, podendo causar perda de volume cerebral e danos à substância branca, com efeitos observados até seis meses após a infecção. Penalva explica que, no caso da Covid longa, "não há uma perda de volume visível no cérebro, ou seja, não há atrofia, mas existe uma diminuição da densidade sináptica -que é a conexão entre um neurônio e outro".
Ele acrescenta que, em suma, "a Covid longa pode tornar o funcionamento do cérebro mais lento e cansativo, mesmo sem sinais claros de lesão".
Infecções por herpes foram ligadas a uma perda mais rápida de tecido cerebral, especialmente em áreas relacionadas à memória, devido à inflamação prolongada. Até mesmo infecções de pele podem provocar respostas inflamatórias que afetam o cérebro a longo prazo.
O estudo sugere que a inflamação é o principal mecanismo de dano cerebral, aumentando o risco de demência, especialmente em regiões importantes para a memória e raciocínio.
Infecções respiratórias mais graves, como pneumonia, podem causar danos mais profundos no cérebro, enquanto infecções de pele também foram associadas a efeitos cerebrais por meio de respostas inflamatórias prolongadas.
Penalva destaca que nem todos que tiveram infecções desenvolvem problemas neurológicos. Pensando na Covid, "apenas uma pequena parcela das pessoas (5% a 10%) é afetada de maneira duradoura, devido à sua predisposição individual, que inclui fatores genéticos, imunológicos e ambientais".
A interação entre um vírus e organismo é complexa e depende do histórico individual de cada pessoa, sendo essa predisposição o principal fator de risco para problemas neurológicos graves, como a demência.
Em geral, o estudo demonstra a importância de prevenir e tratar infecções de forma eficaz, especialmente em pessoas mais velhas ou com condições de saúde preexistentes.
Ele também reforça o conceito de "pré-doença", já aplicado ao Alzheimer, mostrando que é possível identificar problemas cerebrais antes de se tornarem visíveis, permitindo intervenções mais precoces.
"Usando dados de longo prazo, o estudo revela que infecções passadas podem aumentar o risco de doenças neurológicas e outras condições ao longo da vida, ajudando a prever e prevenir problemas futuros", afirma Penalva.
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