Por Hugo Leite / Ana Clara Pires
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A ampliação da isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil mensais promete aliviar o orçamento de milhões de trabalhadores e estimular o consumo interno, beneficiando setores como comércio e serviços. No entanto, a medida também levanta preocupações sobre o impacto fiscal, com uma possível redução significativa na arrecadação tributária, o que pode comprometer investimentos públicos e pressionar o equilíbrio das contas governamentais.
Apesar das preocupações, o ministro da Fazenda Fernando Haddad garante que o aumento da faixa de isenção da tributação não irá ocasionar em um maior gasto do governo. O líder da pasta explicou que a maior taxação sobre a população que ganha acima dos R$ 50 mil irá “financiar” a medida.
“Quem ganha mais deve contribuir mais, permitindo que possamos investir em áreas que transformam a vida das pessoas. Reafirmamos, portanto, nosso compromisso com as famílias brasileiras, proteger o emprego, aumentar o poder de compra e assegurar o crescimento sustentável da economia. Exatamente por isso anunciamos hoje também a maior reforma da renda de nossa história”, disse Haddad durante o pronunciamento.
O professor Carlos Eduardo Iwai Drumond, do Departamento de Ciências Econômicas da Universidade Estadual de Santa Cruz (Uesc), assume que essa é uma medida muito aguardada por parte significativa da população. "Considerando também a lentidão com que a tabela do IR vem sendo corrigida ao longo das décadas, esse desejo se acentua ainda mais". No entanto, o estudioso também garante que a curto prazo o governo terá um "grande desafio" na administração desta medida.
"Os efeitos imediatos na economia podem não ser exatamente positivos. Com o desafio de equilibrar as contas públicas, o governo introduz um elemento extra na balança, que é o corte de impostos. O Ministério da Fazenda espera que esse corte seja compensado pelo aumento dos impostos para aqueles com rendas mais altas, em particular na faixa acima de R$ 50 mil mensais. No entanto, nem todos os detalhes da medida foram anunciados, o que deixa os impactos nas contas do governo incertos".
O professor também contou que apesar dos impactos no consumo interno, ele não acredita que esse seja um dos objetivos do governo federal com a implementação da medida. "Uma reformulação dessa natureza está muito mais relacionada ao desejo de tornar a tributação menos concentrada nos mais pobres, de modo que os efeitos de curto prazo no consumo certamente não serão grandes o suficiente para anular o desafio fiscal que o governo decidiu enfrentar. Parece-me razoável que nem mesmo o Ministério da Fazenda acredite que o mais relevante da medida sejam eventuais aumentos no consumo das famílias com renda de até R$ 5 mil mensais".
Horas após o anúncio do aumento da isenção, da taxação de fortunas e do pacote de corte de gastos, que aconteceu na noite de quarta-feira (27), o Brasil pode observar as primeiras consequências das mudanças. Ainda na quarta-feira, o dólar teve uma alta de mais de 1,8%, e atingido o maior valor nominal da história (R$ 5,9124).
Na manhã desta quinta-feira (28), o dólar voltou a subir com força. A moeda logo subiu 1,30%, com o dólar cotado a R$ 5,990, e, no fim do dia, fechou R$ 5,9865.
"O mercado financeiro é bastante sensível à questão fiscal brasileira, que certamente representa um grande desafio para o Ministério da Fazenda. Conseguir equilibrar as contas públicas sem comprometer o financiamento de despesas consideradas essenciais pela sociedade brasileira não é uma tarefa trivial. O mercado aguardava o anúncio de um corte de gastos, mas, quando ocorre um anúncio de corte de impostos no mesmo momento, isso acaba gerando certo ruído, com reflexos no dólar, nos juros e na bolsa. O impacto no câmbio, em especial, pode adicionar um ingrediente inflacionário extra nos próximos meses, devido ao encarecimento de produtos e insumos importados", comentou o professor.