Ministério do Meio Ambiente diz que meta climática mais dura é o alvo e defende flexibilidade

Por Thaísa Oliveira| Folhapress

Foto: Marcelo Camargo / Agência Brasil

O Ministério do Meio Ambiente afirmou que o alvo do Brasil é cortar 67% das emissões de gases de efeito estufa em 2035 e argumentou que a nova meta climática estabeleceu uma banda de redução entre 59% e 67% porque o país precisa de "flexibilidade".
O documento completo, segundo o ministério, será entregue durante a COP29, conferência das Nações Unidas sobre mudança climática, que começa nesta segunda-feira (11), em Baku, capital do Azerbaijão, pelo chefe da delegação brasileira, o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB).
A nova meta climática do Brasil (conhecida no jargão da ONU como NDC, sigla em inglês para contribuição nacionalmente determinada) foi divulgada na sexta-feira à noite (8) pelo governo Lula (PT) sem maiores detalhes e recebeu duras críticas de especialistas e organizações da sociedade civil.
Um dos pontos que chamou atenção foi a definição de um intervalo de redução que vai de 59% a 67%, considerando os níveis de emissões em 2005. Em termos absolutos, isso significa limitar as emissões em 2035 ao valor entre 1,05 bilhão de toneladas de gás carbônico (59% de redução) e 850 milhões de toneladas (67% de redução).
Questionado pela Folha no sábado (9), o Ministério do Meio Ambiente afirmou que a "ambição é reduzir as emissões em 67%" para "chegar a 2035 com 850 milhões de toneladas de CO2". Disse, ainda, que o Brasil é um país em desenvolvimento, que enfrenta limitações --inclusive financeiras.
"É uma meta muito ambiciosa e, ainda que sejamos um país em desenvolvimento, sem as mesmas condições dos países desenvolvidos em termos de base tecnológica, recursos financeiros e creditícios, trabalharemos para superar essas limitações a fim de atingirmos nossa meta, criando as condições propícias, tanto nacionais quanto internacionais, para alcançar a redução de 67%", disse.
"Para isso, precisaremos atrair investimentos internacionais, usar o mercado de carbono ou garantir mais cooperação. Já estamos nos organizando para isso, mas não podemos controlar todos os outros atores. Essa é a razão de existir da banda. Precisamos de flexibilidade, mas com o objetivo de chegar a 2035 com 850 milhões de toneladas de CO2, que é o nosso alvo."
A última NDC submetida pelo Brasil, em 2023, prometia emitir no máximo 1,3 GtCO?e (gigatoneladas, ou bilhões de toneladas, de gás carbônico equivalente) em 2025 e 1,2 GtCO?e em 2030. Esse objetivo representava um corte de 48% nas emissões até 2025 e de 53% até 2030, na comparação com 2005 (ano usado como referência nas metas).
Pelo Acordo de Paris, os países signatários têm até fevereiro de 2025 para divulgar os planos atualizados. Como o Brasil sediará a próxima cúpula climática, a COP30, em novembro do ano que vem em Belém, havia a expectativa de que os objetivos traçados fossem ainda mais ambiciosos.
Em resposta aos questionamentos, o ministério de Marina Silva afirmou que a meta anunciada é não só ambiciosa, mas também responsável. Segundo o governo, a proposta reflete o papel brasileiro "de liderar pelo exemplo, tanto no que diz respeito à meta quanto ao desafio de sua implementação".
"O Brasil é um país que cumpre suas metas internacionais, o que fortalece os acordos multilaterais, fundamentais para o enfrentamento das mudanças climáticas", afirmou.
O ministério defendeu ainda que a nova NDC está em linha com a meta do Acordo de Paris de limitar o aquecimento médio do planeta a 1,5ºC. A pasta afirmou que se guia "pela melhor ciência disponível" e que existem "muitos modelos com variáveis diferentes, níveis de incerteza e, principalmente, diferentes perspectivas de justiça climática".
"Utilizamos o melhor da ciência brasileira para nos orientar, e o modelo Coffee, da UFRJ [Universidade Federal do Rio de Janeiro], coloca a NDC brasileira como alinhada à meta de 1,5°C. Logicamente, esse alinhamento também depende muito do alinhamento dos outros países", declarou em nota.
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