Opinião: O canditato Gusttavo Lima, o balão de ensaio e o roteirista imprevisível do Brasil

Por Fernando Duarte

Foto: Divulgação

Apesar de muito desdém com a possibilidade de Gusttavo Lima ser candidato a presidente em 2026, o caso não seria isolado até mesmo na história recente do Brasil. Sobrevivemos à quase candidatura de Luciano Huck ao Palácio do Planalto, anos depois de Silvio Santos ter postulado ser presidente. Ou seja, conviver com celebridades e pessoas da mídia com intenções políticas é cotidiano.
São parcas as alternativas viáveis para urnas no ano que vem. Luiz Inácio Lula da Silva desenha a reeleição ainda que a idade possa ser um empecilho. Jair Bolsonaro insiste ser elegível, ainda que a Justiça evidencie o contrário. Mas daí a acreditar que o autroproclamado embaixador seja um bom risco a correr, é distópico demais até para os padrões locais. Gusttavo Lima seria uma piada de mau gosto tal qual a Ucrânia sendo conduzida por um comediante que a mantém em guerra com a Rússia.
Entretanto, o balão de ensaio dessa candidatura do cantor esconde algumas nuances. A primeira e mais fácil de associar é o esforço dele em mudar o foco das denúncias envolvendo bets e lavagem de dinheiro que pesam contra ele. Dentro de um cenário muito bem calculado, Gusttavo Lima deixa de ser um alvo para ser um injustiça. Bem típico de quem quer dissimular usando a política como alternativa - e exemplos assim pululam aos montes.
A reação do entorno de Bolsonaro é outro aspecto. Apoiador declarado dessa extrema-direita, o embaixador abriria o flanco para se capitalizar e, na sequência, transferir esse capital político para um aliado. Os bolsonaristas acusaram o golpe ao colocar Gusttavo Lima como um movimento de Ronaldo Caiado para ser beneficiário disso. Os envolvidos não admitiriam, mas não deixa de fazer sentido. Entre um inexperiente cantor e um político profissional para presidência, não é uma escolha muito difícil...
Para além disso, Gusttavo Lima é também um representante do agro. E este setor vive o esforço de manter ascendência sobre quem está no poder. A parte menos responsável celebrou a "liberação da boiada" dos tempos de Bolsonaro, enquanto vive as turras com o governo Lula, ainda que os números permaneçam recorde. O embaixador agiria como um diplomata desse setor, trazendo as pautas para o primeiro plano e deixando claro que há insatisfações com o sistema político - que eles alimentam.
Ao fim e ao cabo, esse anúncio do cantor que deseja ser presidente pode ser mais momento do roteiro tragicômico do Brasil. Possivelmente, não vai dar em muita coisa, mas faz o barulho almejado. O problema é que, por aqui, o realismo fantástico encontrou morada...
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