Cortes de Trump ameaçam ajuda a refugiados e conservação ambiental no Brasil

_Outro projeto afetado foi o Orinoco, que disponibilizava gratuitamente instalações sanitárias com banheiros, chuveiros e lavanderias na capital do estado e em Pacaraima, registrando mil acessos todos os dias_

Foto: AFP

Organizações brasileiras e internacionais dedicadas à proteção ambiental e ao apoio a refugiados por meio do acesso a higiene e alimentação estão suspendendo seus programas no Brasil devido ao congelamento da ajuda externa pelo governo Trump.
Uma delas é a Cáritas Brasileira, entidade social da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), que paralisou por tempo indeterminado o projeto Sumaúma, responsável pela distribuição de 1.800 refeições diárias a venezuelanos e pessoas em situação de rua em Boa Vista (RR) -entre 2022 e 2024, elas somaram mais de 1,2 bilhão.
Outro projeto afetado foi o Orinoco, que disponibilizava gratuitamente instalações sanitárias com banheiros, chuveiros e lavanderias na capital do estado e em Pacaraima, registrando mil acessos todos os dias. Em 2024, mais de 50 mil pessoas utilizaram os serviços.
O Sumaúma dependia de recursos da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (Usaid), principal órgão de assistência internacional dos EUA, que suspendeu por 90 dias o financiamento a diferentes programas ao redor do mundo.
Já o Orinoco contava com apoio do Escritório de Refugiados e Imigrantes, conhecido como PRM, também do governo americano. Com apoio da União Europeia e das Cáritas Alemanha e Suíça, instalações foram reabertas temporariamente em Pacaraima nos últimos dias.
“Ficamos bastante preocupados com essa situação, porque os projetos nasceram [em 2019] justamente para preencher uma lacuna no atendimento a pessoas migrantes, refugiadas e em situação de rua”, afirma Giovanna Kanas, assessora nacional da Cáritas Brasileira.
“Hoje, o atendimento em Roraima está mais organizado do que naquela época, com mais organizações atuando, além dos serviços da Operação Acolhida. Mas sabemos que a pressão nessas outras entidades será maior [com a suspensão do Orinoco e Sumaúma], e provavelmente algumas pessoas não conseguirão assistência.”
O Acnur, a agência da ONU para refugiados, que também recebia financiamento da Usaid, relata que suspendeu cerca de 40% de seus programas no país, o que limitará a distribuição de kits de higiene para migrantes e o fornecimento de itens de cozinha para abrigos na região Norte.
Entre as ações prejudicadas, está um projeto de autonomia financeira voltado para essa população.
“Investimentos do Acnur são centrados em refugiados em situação de maior vulnerabilidade. Isso significa que pessoas em situações já drásticas terão menos acesso a esses recursos”, diz Miguel Pachioni, oficial de comunicação da entidade.
Segundo ele, a expectativa é que a limitação de recursos comprometa o fundo global de ação do Acnur, o que reduzirá a capacidade de intervenção em emergências como as enchentes no Rio Grande do Sul em 2024, quando a agência atuou na resposta humanitária e na assessoria técnica para planos de reconstrução do estado.
No campo ambiental, o IPÊ (Instituto de Pesquisas Ecológicas) deixou de coordenar ações de monitoramento da Floresta Nacional de Caxiuanã, no Pará, que integravam o Programa Nacional de Monitoramento da Biodiversidade do ICMBio (Instituto Chico Mendes de Biodiversidade).
A ONG ambiental tinha o papel de articular diferentes parceiros envolvidos no projeto, como o Serviço Florestal Brasileiro e o Museu Paraense Emílio Goeldi, para a coleta de dados em áreas de conservação e manejo florestal. O objetivo era avaliar os impactos da atividade econômica sobre a biodiversidade local.
“Não executávamos as ações sozinho, mas as coordenávamos. O que o IPÊ fazia era otimizar a atuação do próprio governo federal, somando esforços e trazendo mais recursos financeiros e humanos para fortalecer o monitoramento nas áreas”, explica Débora Lehmann, coordenadora executiva do Componente de Monitoramento Participativo da Biodiversidade do IPÊ.
“Quando nos tiram dali, [o programa] volta para o orçamento original, com o que já existe de recursos e pouca gente, então tudo acaba ficando mais lento, mas acontece e é bem realizado, só que em outro tempo e dentro da disponibilidade deles.”
O IPÊ envolvia a comunidade local nas ações, capacitando moradores para coletar dados sobre biodiversidade, como a incidência de diferentes espécies de borboletas e o crescimento de plantas.
Recursos da entidade vinham da Usaid e do Serviço Florestal dos EUA, que também foi alvo de cortes de verbas pelo governo Trump.
Nesta semana, um juiz federal de Washington ordenou que o financiamento à Usaid e a programas humanitários fosse restabelecido até quarta-feira (26).
O governo Trump recorreu à Suprema Corte poucas horas antes do prazo final, e o presidente da Suprema Corte dos Estados Unidos, John Roberts, deu vitória a Trump ao suspender a ordem que exigia o pagamento de quase US$ 2 bilhões (cerca de R$ 11,5 bilhões) em ajuda externa congelados.
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