Polícia cumpre mandados contra quadrilha envolvida em sequestro em Simões Filho

Por Lula Bonfim

O corpo-a-corpo tradicional da política brasileira | Foto: Divulgação

Casos recentes de violência envolvendo política têm preocupado os candidatos a cargos eletivos na Bahia. O assassinato do tesoureiro do PT em Foz do Iguaçu-PR neste mês de julho (relembre aqui) ainda assusta os quadros políticos, que veem uma escalada da intolerância ideológica em todo o país e temem que casos parecidos se repitam em território baiano.
Apesar do período eleitoral ainda não ter começado oficialmente, a pré-campanha já está na rua desde os primeiros meses do ano. Não aconteceu na Bahia, até o momento, nenhum caso de violência que tivesse chamado a atenção. Mas o fato acontecido no interior do Paraná acendeu um alerta para os políticos locais.
“Na nossa campanha, isso agora vai ser um componente, que nós não tínhamos aqui na Bahia. Agora, a gente vai ter que pensar como é que a gente vai se portar com relação a segurança. Porque quem sabe um louco desse? Em todo lugar tem. Só precisa de um. Com certeza, a apreensão e a preocupação aumentaram bastante”, confessou ao Bahia Notícias o deputado estadual Jacó (PT), candidato à reeleição.
Para o petista, o grande culpado pelo aumento da violência nos ambientes políticos é o presidente da República, Jair Bolsonaro (PL), que teria ascendido politicamente com um discurso belicoso, que, segundo seus adversários, incentiva a violência.
“A gente tem que ter acompanhado com muita preocupação. A postura do presidente da República, as mensagens que ele passa para a sua base, do bem contra o mal, de ‘a gente sabe o que tem que fazer’, incentivando… Enquanto fica na retórica, a gente fica olhando ali e observando. Mas, quando a gente vê um ato como aconteceu lá no Paraná, aí de fato, a luz amarela acende”, afirmou o deputado.
A opinião de Jacó é compartilhada também pela deputada estadual Olívia Santana (PCdoB), que também será candidata nas eleições de outubro. Para ela, a chegada de Bolsonaro ao grande jogo político foi fundamental para que a animosidade crescesse no meio, provocando o aumento dos casos de violência.
“A própria eleição de Bolsonaro em 2018 já se deu nesse clima de beligerância. A gente sempre teve disputas políticas entre esquerda e direita, mas o grau de violência política aumentou muito a partir da candidatura de Bolsonaro. Tudo que era tido como absurdo, abaixo da linha civilizatória, passou a fazer parte do jogo, passou a fazer parte disputa eleitoral. Bolsonaro se elegeu com forte discurso de elogio a tortura, um discurso racista, de provocações racistas, machistas, misóginas, abertamente”, criticou Olívia, em entrevista ao Bahia Notícias.
A parlamentar comunista lembrou que, ainda em 2018, o mestre de capoeira Moa do Katendê foi morto por um eleitor bolsonarista em Salvador, apenas porque declarou ter votado em Fernando Haddad (PT) para a presidência da República.
“Atos de violência, em qualquer campanha você vê os candidatos se posicionarem de maneira contrária, tanto da direita quanto da esquerda. E, de repente, chega um Bolsonaro e diz: ‘não, tortura está certo’. O símbolo da campanha dele foi o revólver, a arma, a pistola. Um discurso que traz para a política uma forte carga de violência. Não só verbal, como a violência física e até letal”, disse a deputada.
“Essa é uma situação, um clima que preocupa. Quem será a próxima vítima?”, questionou Olívia.
O deputado estadual Samuel Jr. (Republicanos), apoiador de Bolsonaro, não vê o presidente como culpado pelo aumento dos casos de violência no país. Segundo o parlamentar, o extremismo e a polarização são os grandes responsáveis por casos como os que resultaram nas mortes de Moa, em Salvador, e de Marcelo Arruda, em Foz.
“Isso se dá por causa da polarização que nós estamos tomando. Isso é muito perigoso, porque isso foge do que é de fato a democracia. Eu discordar das pessoas, seja por opção religiosa, seja por opção sexual ou seja por opção política, uma opção de time, isso é normal. Até o comentário também é normal. O que eu não posso é desrespeitar as pessoas por divergir daquilo que eu penso, daquilo que eu acredito. Esse extremismo é muito perigoso em qualquer aspecto”, comentou Samuel ao BN.
O parlamentar bolsonarista ainda lembrou da facada que Bolsonaro recebeu em 2018 no início da campanha eleitoral, durante uma caminhada em Juiz de Fora-MG. O fato ficou marcado como decisivo para as eleições daquele ano, dando início a uma subida do então candidato nas pesquisas de intenção de voto.
“A maior violência, a gente viu o presidente, na eleição passada, tomar uma facada. Para a gente discutir a violência de hoje, a gente também tem que discutir o atentado que houve na eleição passada, que até hoje não se tomou uma conclusão. Esses extremos são perigosos e a gente precisa tomar muito cuidado quanto a isso”, afirmou Samuel Jr.

TRANQUILIDADE ATÉ QUANDO?

Tanto Samuel Jr. quanto Jacó e Olívia afirmaram não ter vivenciado qualquer episódio de violência durante suas andanças pela Bahia. Na pré-campanha até agora, a tranquilidade prevaleceu e os candidatos têm conseguido circular em segurança.
“Eu, por exemplo, por onde eu tenho andado em todo o estado da Bahia, não vejo perigo nenhum. Ando normal, ando pela rua, ando a pé, de bicicleta, de moto, de ônibus. Inclusive, já fiz várias viagens de pegar ônibus de noite e amanhecer o dia em Salvador. Então, eu não vejo esse perigo não. Vejo em alguns estados, exemplo que a gente viu lá no no estado do Paraná, mas ali foi um caso isolado”, disse Samuel.
“Tranquilidade total até agora. Até porque eu também nunca estive em um ambiente de mais embate, com a presença da oposição”, relatou Jacó.
Mas ao menos os candidatos de esquerda não estão relaxados. Para eles, mesmo não havendo nenhum caso que indique perigo em 2022, o contexto político atual exige atenção, para que não se repita nenhuma tragédia.
“Bolsonaro facilitou o acesso a armas, a munição. Essas pessoas que acompanham ele geralmente lidam também com armas e que não suportam ser contraditadas. Não suportam lidar com a diferença. Não suportam perder uma discussão, ter uma opinião divergente. Numa situação em que a opinião do opositor predomine, a tendência é que eles queiram ganhar no grito ou no soco ou no pontapé ou até no tiro. Essa é a linguagem deles. Mesmo estando na Bahia, nós vamos ter que ter muito cuidado, não aceitar provocações durante a campanha”, apontou Olívia.
“Esse componente da segurança, a gente estava muito preocupado na questão de Lula, na segurança de Lula. Mas, depois do caso de Foz do Iguaçu, agora todo mundo tem que se preocupar sobremaneira, porque infelizmente tem uma uma parcela da população que está insana. Eu acho que perderam a noção da realidade”, avaliou Jacó.
Todos os candidatos concordam, por outro lado, que as instituições eleitorais e os quadros políticos deveriam se unir para mandar uma mensagem visando a pacificação do processo.
“O TSE deve fazer uma campanha de conscientização. Os formadores de opiniões, os líderes e até os políticos devem estar comentando sobre isso”, cobrou Samuel Jr.
“Todas as instituições precisam de fato se unir e fazer esse combate. A política não dá pra ficar só com esse discurso: ‘ah, está polarizado’. Isso é uma balela. Não é uma questão de polarização. É que um lado vê a violência como uma forma de linguagem política. Isso tem que ser combatido. Se a gente quer preservar a democracia, não pode tratar como natural uma situação como essa”, concluiu Olívia Santana.
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