Por Fernando Duarte
Foto: Reprodução/Twitter / Ricardo Stuckert
A eleição de 2022 pode ser marcada pelo fluxo dos chamados votos úteis, principalmente às vésperas do primeiro turno do pleito. No plano nacional e no baiano. Essa deve ser uma das apostas tanto da campanha de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao Palácio do Planalto quanto de ACM Neto (União), na disputa pelo governo da Bahia. Com a margem de diferença entre eles e os respectivos segundos colocados caindo, apelar para que o eleitor opte por decidir tudo em uma única ida às urnas é um fator que pode ser decisivo no pleito.
No caso de Lula, o entorno do petista vai tentar desidratar as candidaturas de Ciro Gomes (PDT) e Simone Tebet (MDB), que fizeram um movimento de cabeça de tartaruga nas últimas pesquisas. Como o eleitor de Jair Bolsonaro (PL) não votaria em Lula, o ex-presidente conta com uma mudança de votos dos outros adversários para tentar evitar que o atual chefe do Executivo ganhe uma renovação no cargo.
A aposta mais óbvia nesse tipo de voto é de Lula, mas nada impede que o entorno de Bolsonaro atue da mesma maneira. Inclusive com o uso de artifícios já conhecidos desde 2014, quando o antipetismo começou a ganhar um contorno mais definido. O “medo” do comunismo, que remonta até mesmo Regina Duarte em 2002, é apenas uma das nuances que devem ser exploradas até a eleição. Então, o voto útil é aquele a demarcar a chance de uma disputa plebiscitária, frente a um embate em dois turnos, como vimos há pelo menos 20 anos.
A Bahia viveu uma onda de votos úteis em 2018, mas na disputa pelo Senado. Até bem próximo do pleito, Irmão Lázaro aparecia na segunda posição e acabou ultrapassado por Angelo Coronel (PSD) na reta final. À época era comum ouvir do eleitor, inclusive daqueles que torciam o nariz para a indicação do ex-presidente da Assembleia Legislativa para a chapa, que votar em Coronel era evitar o risco de ter Lázaro no Senado - em um contexto em que o bolsonarismo estava em gestão e o cantor-deputado flertava com o apoio irrestrito à causa.
Agora, em 2022, ACM Neto é quem talvez possa efetivamente se beneficiar do voto útil. À frente nas pesquisas e com flertes não declarados com diversas candidaturas à presidência, inclusive a de Lula, o ex-prefeito de Salvador pode contar com os votos da direita não extremada, que não dialoga diretamente com João Roma, ao mesmo tempo em que pode herdar sufrágios daqueles que até aceitam o PT no Planalto, mas que preferem uma alternância de poder na Bahia. Somado ao fato de que o passado recente baiano não inclui uma disputa em dois turnos para o governo.
A 20 dias da eleição, não nos surpreendamos se o discurso do entorno de todos os candidatos caminhar no sentido de levantar a bola do voto útil. À beira da exaustão diante do excesso de tensão política ao longo dos últimos anos, o eleitor pode optar por não estender o “sofrimento” por todo o mês de outubro. Resta saber se os candidatos e suas campanhas vão conseguir convencer os votantes a escolher desde agora quem vai comandar o Brasil e a Bahia.