Por Catia Seabra, Marianna Holanda, Matheus Teixeira e Victoria Azevedo | Folhapress
Foto: Reprodução / TV Globo
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente Jair Bolsonaro (PL) se enfrentarão pela última vez antes do segundo turno das eleições na noite desta sexta-feira (28) em debate da Rede Globo. O debate é apontado como decisivo para atração de indecisos e consolidação de uma faixa de eleitorado mais influenciável.
No confronto, os dois tentarão impor sua pauta ao adversário. Bolsonaro tentará investir na agenda de costumes e combate à corrupção, enquanto Lula insistirá na carestia e na vida do brasileiro.
Há, entre aliados de Lula, a expectativa de que Bolsonaro parta para o tudo ou nada, tentando colar no petista a pecha de corrupto.
A orientação, nesse caso, é para que Lula seja objetivo nas respostas, lembre denúncias de corrupção contra a família Bolsonaro e retorne à economia.
Não está descartada a menção a temas como evolução patrimonial da família do presidente, o ataque do ex-deputado Roberto Jefferson (PTB) a agentes federais e o fato de Bolsonaro ter dito que "pintou um clima" com meninas venezuelanas. Tudo dependerá da conduta do opositor.
Nesse segundo turno, o petista contou com a orientação de Olga Curado, que mescla um conjunto de técnicas, como aikidô e meditação, para orientar seus clientes.
Ela tem participado das reuniões de preparação, bem como o ex-ministro Franklin Martins. Para este último debate, a preparação contou com a presença da presidente do PT, Gleisi Hoffmann, o marqueteiro Sidônio Palmeira, e o prefeito de Araraquara, Edinho Silva.
Lula reservou sua agenda na quinta (27) e nesta sexta-feira (28) para se dedicar exclusivamente ao debate.
A postura, o posicionamento no palco, a administração do tempo e a impostação de voz de Lula têm merecido especial atenção. O esforço é para conduzir o debate para comparação do seu legado com a atual gestão de Bolsonaro.
Temas que apareceram nas peças da propaganda eleitoral do petista, sobretudo sobre a economia, como a isenção do imposto de renda para quem recebe até R$ 5.000 e o aumento do salário mínimo acima da inflação, deverão ser abordados por Lula.
A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, afirmou nesta quinta, ao sair de uma das reuniões de preparação, que espera que o debate "tenha nível" e que "discuta o Brasil e não as fake news de Bolsonaro".
Ela disse ainda que o ex-presidente Lula está "preparado para o embate e vai ser propositivo".
"Vamos ter que enfrentar e responder. Importante é dizer para o povo brasileiro o que que a gente pensa para o Brasil na situação que o país está. Esse é o propósito do presidente."
Aliados de Lula enxergam como positiva a regra segundo a qual não é permitido contato físico entre os adversários. No primeiro debate do segundo turno, no último dia 16, houve um momento em que Bolsonaro tocou o ombro de Lula, que se desvencilhou do gesto.
Apesar de o presidente Bolsonaro rechaçar a ideia de media training, ele vai se preparar, nesta sexta, para o debate com aliados no Rio de Janeiro. Um dos que vão ajudá-lo é o coach e deputado federal eleito, Pablo Marçal.
Segundo relatos, ele auxiliará o presidente na "presença de comando", um termo cunhado pelo comunicador para demonstrar "mais firmeza e convicção", segundo a assessoria do coach.
O candidato, no último confronto, teve dificuldades em se deslocar no palco, por exemplo, enquanto Lula fez suas intervenções com olhar fixo para a câmera.
No primeiro bloco do debate da Band, o chefe do Executivo levou papéis e ficava olhando para trás, porque Lula voltava para o púlpito, enquanto seu adversário respondia. Foi, então, orientado a pedir que o petista ficasse ao seu lado.
Para isso, tocou no ombro do adversário. No debate da Globo, segundo a campanha, a emissora frisou a proibição de toque entre os candidatos.
Apesar de Bolsonaro ter mais dificuldade em se comunicar num formato de debate em que os dois ficam livres para caminhar no palco, questionar e responder às perguntas, a campanha avalia que a imagem dos dois, lado a lado, é positiva para o presidente.
Ele será orientado a, sempre que possível, se aproximar do petista, porque a sua altura comparada com a do Lula tem um bom efeito no vídeo e a proximidade gera desconforto no petista.
Aliados do chefe do Executivo comemoraram a ausência de Lula nos confrontos anteriores, da Record e do SBT, na última semana, que garantiram o que eles chamaram de "horário eleitoral gratuito". Pelas regras do debate, na ausência de um dos concorrentes, as emissoras entrevistaram o outro candidato, o que ocorreu.
No geral, a avaliação do entorno de Bolsonaro é a de que, a dois dias do segundo turno, a disputa está muito acirrada. A previsão do núcleo de campanha e integrantes do governo é de que a vantagem de quem ganhar será pequena --eles ainda apostam na vitória de Bolsonaro.
Por isso, o debate da TV Globo pode ser decisivo para garantir um bom desempenho e um deslize de Lula.
Integrantes da campanha de Bolsonaro querem que ele aproveite o espaço para reforçar que não vai desindexar o salário mínimo, a despeito do estudo a equipe de Paulo Guedes, revelado pela Folha.
Há uma avaliação de que este é o maior golpe na campanha do presidente e, portanto, ele deve aproveitar todas as oportunidades para abordar o tema.
O foco principal vai ser novamente na questão da corrupção. Pesquisas qualitativas mostram que o tema sempre teve efeito no eleitorado, desde o primeiro turno, independente da reação de Lula.
A ideia, portanto, é reforçar que ele não foi inocentado e que sua sentença foi anulada por questões burocráticas. Outra estratégia é explorar ao máximo o debate nas redes sociais e fazer recortes que possam viralizar entre a militância bolsonarista e até mesmo furar a bolha de apoiadores fiéis do presidente.