Foto: Valter Campanato/Agência Brasil
Sinais mais fortes de que a PEC da Transição será desidratada no Congresso Nacional e uma melhora do apetite por risco no exterior ao longo da tarde
Sinais mais fortes de que a PEC da Transição será desidratada no Congresso Nacional e uma melhora do apetite por risco no exterior ao longo da tarde, na esteira de discurso do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, abriram espaço para uma forte onda de apreciação do real que levou o dólar a encerrar a sessão desta quarta-feira, 30, no patamar de R$ 5,20
Pela manhã, a divisa até ensaiou uma alta modesta, interrompendo a sequência de dois pregões seguidos de queda. Passada a volatilidade gerada pela disputa pela formação da última Ptax de novembro na primeira etapa de negócios, contudo, o dólar perdeu força e adentrou a tarde em baixa moderada, trabalhando ao redor de 5,27. Esse movimento se dava em linha com a tendência predominante de enfraquecimento da moeda americana frente a divisas de exportadores de commodities, ainda sob efeito da possibilidade de que a China relaxe a política de Covid zero.
O dólar renovou sucessivas mínimas a partir de 15h, com a confluência de fatores internos e externos. Por aqui, pesou a informação, apurada pelo Broadcast Político com fontes, de que o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), disse ao presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, em reunião em Brasília, que a proposta original da PEC da Transição – com gastos de R$ 198 bilhões fora do teto e prazo de quatro anos – não passa no Congresso. Assessoria de imprensa de Lira confirmou o encontro com Lula, mas disse que as informações publicadas “não condizem com a verdade”.
À redução de percepção de risco fiscal doméstico se somou o tombo da moeda americana frente a divisas fortes e a alta das bolsas em Nova York, após o presidente do Fed confirmar a possibilidade de redução do ritmo de alta da taxa de juros nos Estados Unidos a partir do próximo mês.
Com mínima a R$ 5,1966, registrada nos minutos finais da sessão, a moeda encerrou o dia em baixa de 1,63%, cotada a R$ 5,2016 – menor valor desde o último dia 9 (R$ 5,1821). Com uma sequência de três pregões seguidos de baixa, o dólar agora acumula perdas de 3,86% na semana. Com isso, a divisa termina novembro com ganhos de apenas 0,69%.
Segundo um economista-chefe de um banco brasileiro, que pediu anonimato, o mercado começa a retomar a tese, que vicejou logo após o primeiro turno das eleições, de que Congresso vai podar as iniciativas mais arrojadas do governo eleito. “Apesar de toda a crítica ao orçamento secreto, o governo vai ter que ceder ao Lira, que manterá um poder de barganha imenso. O Congresso ainda vai tentar manter o protagonismo que ganhou com a falta de iniciativa de Bolsonaro”, afirma.
No exterior, o índice DXY – que mede o desempenho do dólar frente a uma cesta de seis divisas fortes – afundou à tarde e registrou mínima abaixo da linha dos 106,000 pontos, com perdas fortes em relação ao euro e ao iene.
Em sua fala, Powell afirmou que o BC americano não quer “apertar demais” as condições financeiras porque reduzir a taxa de juro não é algo que a instituição deseja fazer em breve. “Então, é por isso que estamos desacelerando”, disse.
Mais cedo, dados do relatório ADP mostram que o setor privado dos Estados Unidos criou 127 mil vagas de emprego em novembro, bem abaixo da expectativa dos analistas, de geração de 190 mil postos de trabalho. Foi a maior desaceleração desde janeiro de 2021. Esses dados aumentam a expectativa para a divulgação na sexta-feira, 2, do relatório de emprego (payroll) de novembro.
A especialista em renda fixa da Blue3, Fernanda Bandeira, ressalta que os dados do ADP e as palavras de Powell reforçaram a possibilidade de que o Fed realmente comece a desacelerar o ritmo de alta dos juros nos EUA. “O mercado se animou com Powell O Fed ainda não está com discurso dovish, mas aumenta o sentimento é de que os juros já não vão subir com tanta intensidade nos EUA”, afirma Bandeira.
Por Estadão Conteúdo