Por Lula Bonfim
Foto: Diego Mascarenhas
Um planejamento de prevenção a enchentes, construído no último mês de junho durante o I Encontro dos Comitês de Bacias Hidrográficas da Bahia (ECOBA), ficou parado por cinco meses e ainda não foi colocado em prática no estado devido à campanha eleitoral. Essa é a avaliação de Anselmo Caires, ambientalista e coordenador-geral do Fórum Baiano de Comitês de Bacias Hidrográficas.
No ECOBA, ocorrido entre os dias 26 e 29 de junho em Porto Seguro, foi elaborado um documento nomeado “Carta da Costa do Descobrimento” (clique aqui para ler), contendo 26 propostas de medidas relativas à questão hídrica na Bahia, incluindo algumas que visavam prevenir cheias no território do estado.
A carta foi lançada em Salvador, em um evento ocorrido na sede da Federação das Indústrias do Estado da Bahia (FIEB) no dia 19 de agosto. Entretanto, de acordo com Caires, o documento só voltou à discussão com o término no período eleitoral. Segundo ele, as eleições acabaram impedindo que o planejamento fosse colocado em prática ainda em 2022, mitigando os efeitos da chuva neste mês de dezembro.
“Devido ao processo eleitoral, não houve tempo para se colocar nada em prática. O problema maior é esse: parou tudo no momento da eleição. Não teve avanço nenhum. Espero que o novo governador [Jerônimo Rodrigues, do PT] abra agenda urgente para discutir isso. É fundamental para a Bahia”, disse o ambientalista, em entrevista ao Bahia Notícias.
Apenas com o fim das eleições, o planejamento voltou a ser discutido. Entre 16 e 18 de novembro no município de Santa Cruz Cabrália, secretários municipais de Meio Ambiente de todo o estado se reuniram no Encontro de Meio Ambiente da Bahia (EMAB) e aprovaram a Carta da Costa do Descobrimento.
“Logo após as eleições, houve um encontro de secretários municipais lá em Cabrália. O que foi discutido em Porto Seguro foi aprovado em Cabrália. Encaminhamos para a Sema [Secretaria Estadual do Meio Ambiente], para o Inema [Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos] e para o governo eleito”, relatou Caires.
Mas as soluções não chegaram a tempo. Um ano depois das chuvas que castigaram o sul e o sudoeste da Bahia em dezembro de 2021, muitas das mesmas cidades estão sofrendo com os mesmos problemas: cheias, que provocam enchentes e interditam rodovias e aeroportos.
FUTURO DO MEIO AMBIENTE NA BAHIA
Sobre a escolha de Jerônimo para o novo titular da Sema na Bahia, Caires preferiu não fazer nenhum julgamento precipitado. Ligado ao senador Jaques Wagner (PT), é o advogado Eduardo Sodré Martins quem deve liderar a pasta nos próximos anos.
“A gente não pode julgar o novo secretário pela capa do livro. Ele é advogado ambientalista, é da área, mas politicamente a gente ainda não sabe como vai ser. A questão política sempre influencia”, avaliou.
Com a Carta da Costa do Descobrimento nas mãos, o ambientalista espera que as gestões de Jerônimo e Sodré Martins avancem nas medidas para resolver os problemas hídricos da Bahia, impedindo que novas enchentes atinjam os baianos no futuro.
“Esperamos dos novos gestores um olhar mais atento para as necessidades, opiniões e sugestões dos Comitês baianos, legítimos espaços democráticos de discussão e deliberação. Confiamos que as recomendações constantes da Carta da Costa do Descobrimento serão atendidas em prol da segurança hidroambiental”, concluiu Caires.