Lula assumiu compromisso de respeitar autonomia das universidades federais, diz reitor da UFBA

Por Bruno Leite / Lula Bonfim

Foto: Lia Sfoggia

O presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), recebeu na quinta-feira (19) mais de 100 reitores de universidades e institutos federais do Brasil. No encontro, que teve a presença dos dirigentes máximos de todas as instituições federais de ensino superior da Bahia, o petista prometeu respeitar a autonomia universitária e indicar sempre os mais votados por cada comunidade acadêmica para suas respectivas reitorias.
O reitor da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Paulo Miguez, conversou com o Bahia Notícias nesta sexta (20) e relatou com detalhes o encontro dos dirigentes universitários com Lula. Segundo ele, diante da presença de ministros do governo e inúmeras autoridades da área da Educação, o presidente da República assumiu o compromisso de manter uma boa relação com as instituições.
“É a primeira vez em muitos anos, em que as universidades federais e os institutos federais são recebidos pelo presidente da República”, comemorou Miguez. “Com uma plateia tão importante, o presidente da República assumiu o compromisso de que a relação com as universidades e institutos federais será marcada especialmente pelo diálogo e pelo respeito à nossa autonomia. E se dispôs, de imediato, através do Ministério da Educação, a equacionar os grandes problemas que nós temos que enfrentar neste momento”, disse o reitor.
Miguez afirmou que um dos principais desafios a serem enfrentados pelo novo governo é a recomposição orçamentária das universidades, que sofreram com diversos cortes durante o governo de Jair Bolsonaro (PL).
“O presidente reconheceu que o desafio é imenso, especialmente por conta da destruição que se promoveu contra as universidades e os institutos. Não se trata só de uma recomposição orçamentária, ainda que ela seja absolutamente fundamental. As universidades estão trabalhando com orçamentos equivalentes, semelhantes ou até iguais, do ponto de vista dos números, aos de 10 anos atrás. Isso é absolutamente impossível de permitir uma gestão adequada, especialmente no enfrentamento de problemas que são centrais na universidade contemporânea” avaliou Miguez.
O dirigente relatou que a recomposição orçamentária é fundamental para garantir a permanência dos estudantes em vulnerabilidade social no ambiente universitário. De acordo com ele, a crise socioeconômica do Brasil fez com que o corpo discente das universidades fosse desfalcado de muitos dos seus alunos mais pobres.
“Dois terços dos estudantes da nossa universidade, a Universidade Federal da Bahia, são jovens que experimentam forte situação de fragilidade socioeconômica. Eles precisam da universidade para frequentar a universidade. Não é possível mais que a gente não reconheça que um jovem que compõe esses dois terços do nosso corpo discente precisa de residência, de transporte, de alimentação, de apoio para material escolar. A permanência é a grande questão que a universidade pública contemporânea enfrenta neste país. Foi muito bom ouvir do governo federal, através do seu presidente da República – que, de forma muito respeitosa, recebeu a todos os reitores –, que esse seria um compromisso permanente”, apontou Miguez.
Durante o governo Bolsonaro, a gestão federal se acostumou a nomear como reitores universitários pessoas que não haviam sido as mais votadas pela comunidade acadêmica. Alguns, inclusive, não integravam nem mesmo a tradicional lista tríplice, com as três opções mais bem colocadas na votação. Conforme informações repassadas por Miguez, Lula garantiu que retomará a tradição.
“O compromisso ontem assumido é que será respeitada a lista tríplice. A partir de agora, sem nenhum questionamento”, disse. “Existe o reconhecimento e o respeito à declaração de princípio de que tudo será baseado no diálogo, de que a nossa autonomia será respeitada, que as escolhas dos dirigentes feitas comunidades serão respeitadas, que não haverá interferência do ponto de vista das escolhas democráticas que as universidades e os institutos fazem hoje”, explicou.
Miguez fez diversas críticas à gestão realizada por Bolsonaro na área da Educação e responsabilizou os “ataques às universidades” pelo suicídio, em 2017 – ainda no governo de Michel Temer (MDB) –, do então reitor da Universidade Federal de Santa Catarina, Luis Carlos Cancellier Olivo.
“Nós fomos acusados de balbúrdia, acusados das coisas mais absurdas. Os ataques às universidades nos últimos anos levaram ao suicídio de um reitor, que ontem foi homenageado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Isso nunca mais pode voltar a acontecer neste país. É preciso respeitar as instituições públicas e, em especial, a escola pública e a universidade pública. Não há possibilidade de uma nação mais igual, de construirmos uma sociedade mais justa, se não cuidarmos da Educação, da Ciência e da Cultura”, concluiu Miguez.
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