Por Folhapress
Foto: Jorge Torres / Agência EFE
A repressão capitaneada pelo regime de Daniel Ortega e Rosario Murillo na Nicarágua configura crimes contra a humanidade, dizem especialistas independentes em um relatório publicado pelo Conselho de Direitos Humanos da ONU na quinta (2).
A jornalistas o líder da equipe, o pesquisador Jan-Michael Simon, foi além: comparou as ações da ditadura com o nazismo. "O uso do sistema de Justiça contra oponentes políticos da maneira que é feito na Nicarágua é exatamente o que o regime nazista fez", afirmou.
Simon mencionou, por exemplo, a mais recente medida do regime de retirar a nacionalidade de mais de 300 opositores e enviar alguns deles, que eram presos políticos em Manágua, para os Estados Unidos. "Foi exatamente isso que os nazistas também fizeram no passado."
O relatório divulgado pela comissão, com mais de 40 páginas, oferece um panorama de graves violações de direitos humanos no país centro-americano desde 2018, quando uma mobilização contra uma reforma da Previdência Social catalisou protestos contra o regime e despertou repressão massiva.
O material descreve um padrão de execuções extrajudiciais realizadas por agentes da Polícia Nacional e membros de grupos armados favoráveis ao regime que teriam atuado de maneira conjunta e coordenada durante os protestos --o regime travou investigações.
Há ainda a descrição de casos em que a polícia e agentes do sistema penitenciário torturaram física e psicologicamente opositores detidos. Em alguns episódios, há descrição de violência sexual e de gênero. "O governo tem utilizado a detenção arbitrária como uma ferramenta para silenciar os críticos", diz um trecho do relatório.
O documento pede que a comunidade internacional haja contra as ações do regime de Ortega, em especial por meio de sanções contra os responsáveis pelas violências e contra instituições nicaraguenses.
Especialistas consultados pelo jornal The New York Times afirmaram que as acusações da ONU podem ampliar as ações contra a ditadura. Isso porque a conclusão de que o regime cometeu crimes contra a humanidade poderia ser usada como argumento para que cortes de quaisquer países julgassem pessoas envolvidas nos casos de violência.