Por Camila São José / Lula Bonfim
Foto: Camila São José / Bahia Notícias
O pastor Beljair de Souza Santos, da Igreja Universal do Reino de Deus, foi arrolado como testemunha de defesa dos também pastores Fernando Aparecido da Silva e Joel Miranda, acusados do assassinato, em 2001, do garoto Lucas Terra, à época com 14 anos de idade. Durante depoimento no júri popular na terça-feira (25), realizado no Fórum Ruy Barbosa, o líder religioso acabou entrando em contradição, de acordo com a avaliação do Ministério Público da Bahia (MP-BA).
No testemunho dado diante do júri, ele afirmou que, na época, morava no Parque Júlio César, acompanhado do pastor Joel Miranda, um dos acusados pelo assassinato. Entretanto, a acusação lembrou que, em um depoimento anterior, Beljair havia dito que morava em um condomínio na Av. Paralela, junto apenas à esposa.
Outra contradição apontada pelos procuradores do MP-BA tem a ver com a relação da testemunha com os acusados. Em depoimento dado em 2008, Beljair afirmou que conhecia os pastores Fernando Aparecido e Joel Miranda “apenas de vista”. Nesta terça, porém, ele disse que morava com Joel.
Além disso, a acusação apontou que Beljair prestava contas da igreja do bairro da Santa Cruz à igreja regional do Rio Vermelho, liderada por Fernando. Isso impediria, na avaliação do MP-BA, que ambos se conhecessem apenas “de vista”.
EM NEGAÇÃO
Beljair havia sido apontado por Martoni, uma das testemunhas de acusação, como o pastor que havia proibido que fiéis da Universal participassem das buscas pelo adolescente, que era dado como desaparecido antes do seu corpo ser encontrado carbonizado.
Ainda de acordo com a testemunha, Beljair também decidiu pela expulsão dela e de outros obreiros da Universal, devido à insistência em participar das buscas pelo ainda desaparecido Lucas Terra.
O pastor da Universal, entretanto, afirmou que isso nunca aconteceu. “Jamais vou fazer uma coisa dessa”, disse. Segundo Beljair, ele fez uma oração na igreja e ordenou que obreiros ajudassem na procura de Lucas Terra.
A testemunha também negou que o pastor Sílvio Galiza, primeiro condenado pelo assassinato de Lucas Terra, tivesse sido seu auxiliar na igreja da Santa Cruz. Beljair afirmou que não o conhecia. “Ele era auxiliar da igreja do Rio Vermelho”.
ACUSAÇÃO
Como estratégia para descredibilizar Beljair como testemunha de defesa, os procuradores do MP-BA tentaram mostrar que o discurso do pastor poderia estar sendo manipulado pela Igreja Universal do Reino de Deus.
Beljair era mecânico. Hoje, sua profissão é a de pastor, que cumpre junto à Universal há 30 anos. É a sua única fonte de renda e, para o MP-BA, isso o fragiliza diante de possíveis ordens da igreja em que é empregado.
Questionado se seria punido caso falasse algo contra a Universal, Beljair deu respostas evasivas. “Não tenho nada para falar da igreja”, “seria chamado para conversar, mas não seria punido”, “seria chamado a atenção, orientado e chamado para conversar para saber o que estava acontecendo”, disse o pastor.
Pressionado pelos procuradores, o líder religioso admitiu que seguiria a determinação da igreja caso a Universal ordenasse o fim das buscas por Lucas Terra. “Ele [pastor regional ou bispo] me comunicaria que cessasse a busca, eu passaria para os obreiros, deixaria eles à vontade, e obedeceria”, concluiu.
JÚRI CONTINUA
O júri foi interrompido por volta das 20h47 desta terça (25) e será retomado às 8h30 da manhã nesta quarta (26). A expectativa é que as nove testemunhas de defesa que ainda faltam sejam ouvidas durante todo o dia, bem como os dois réus: Fernando Aparecido e Joel Miranda.
O Salão Principal do Fórum Ruy Barbosa, em Salvador, tem quatro dias reservados para o júri do caso Lucas Terra. A previsão é que o julgamento, iniciado nesta terça, termine apenas na sexta (28).