Países islâmicos pedem fim da guerra em Gaza em cúpula na Arábia Saudita


O presidente iraniano Ebrahim Raisi (à esq.) ao lado do príncipe Mohammed bin Salman em Riad – Presidência iraniana/AFP

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

A Arábia Saudita e outros países muçulmanos pediram no sábado (11) um fim imediato às operações militares israelenses em Gaza, afirmando em uma cúpula em Riad que Tel Aviv cometeu crimes contra os palestinos.
“Estamos enfrentando uma catástrofe humanitária que prova o fracasso do Conselho de Segurança e da comunidade internacional em pôr fim às violações israelenses às leis internacionais”, disse o príncipe herdeiro saudita Mohammed bin Salman, que na prática governa o país do Golfo.
Conhecido como MbS, o nobre reuniu na capital de seu país dezenas de líderes árabes para um encontro com o objetivo de pressionar Israel a encerrar sua presença militar no território palestino. Depois do Estado judeu, a Arábia Saudita é um dos maiores aliados dos Estados Unidos na região.
Um acordo diplomático para normalizar os laços entre os dois países do Oriente Médio estava sendo discutido há meses, mas perdeu tração com a invasão a Gaza. Alguns analistas militares sugerem inclusive que frustrar o acordo era um dos principais objetivos do grupo terrorista Hamas ao realizar a brutal incursão ao território israelense que deu início à guerra, em 7 de Participaram da reunião neste sábado nomes como o presidente iraniano Ebrahim Raisi; o presidente turco Recep Tayyip Erdogan; o emir do Qatar, Tamim bin Hamad al-Thani; e o ditador sírio Bashar al-Assad, que neste ano retornou à Liga Árabe.
Mahmoud Abbas, o impopular líder da Autoridade Palestina -órgão instituído pelos Acordos de Oslo como uma espécie de governo de transição até o estabelecimento de um Estado palestino- também esteve presente. Ele afirmou que moradores de Gaza enfrentam uma “guerra genocida” e pediu a Washington que ajude a dar fim à agressão israelense.
O conflito pode alterar alianças no Oriente Médio, à medida que afasta a Arábia Saudita dos EUA e congela seus planos de normalizar laços com Israel, que os americanos viam como extremamente vantajosos. Também leva a monarquia a se aproximar do Irã, inimigo histórico com quem, por razões pragmáticas, restabeleceu laços diplomáticos em março deste ano, em um tratado mediado pela China.
O presidente iraniano, Ebrahim Raisi, fez, aliás, sua primeira visita ao vizinho no Golfo desde a reaproximação neste sábado. Ele pediu aos países islâmicos que imponham sanções de petróleo e bens a Israel, classifiquem o Exército de Tel Aviv como um “grupo terrorista” e “armem os palestinos” se os ataques continuarem em Gaza.
Teerã é um dos principais apoiadores do Hamas, além de financiar o Hezbollah libanês e os rebeldes houthis do Iêmen.
Os dois últimos grupos também têm atacado posições israelenses durante a guerra em Gaza, aumentando o temor de uma regionalização do conflito.
Já Erdogan, da Turquia, pediu uma conferência de paz internacional para encontrar uma solução permanente para o conflito entre Israel e os palestinos. “O que precisamos em Gaza não são pausas de algumas horas, mas sim um cessar-fogo permanente”, disse ele.
Em outubro, o presidente turco afirmou ao Parlamento de seu país que o Hamas não era um grupo terrorista. A fala provocou dura reação em Israel em um momento em que os dois países se reaproximavam -no ano passado, o presidente israelense, Isaac Herzog, visitou Ancara, e, em setembro, Erdogan encontrou-se pela primeira vez com o premiê do Estado judeu, Binyamin Netanyahu, nos EUA.
Por fim, o emir do Qatar disse que seu país está buscando mediar a libertação de reféns israelenses -foi devido à atuação do país que duas reféns americanas, mãe e filha, foram devolvidas pelo Hamas na fronteira entre a Faixa de Gaza e Israel. Ainda assim, o país fez críticas à invasão. “Até quando a comunidade internacional tratará Israel como se estivesse acima das leis internacionais?”, questionou Thani.
A Arábia Saudita pretendia sediar duas cúpulas extraordinárias, da Organização para a Cooperação Islâmica e da Liga Árabe, neste sábado (11) e domingo (12). Mas um encontro conjunto substituirá as duas reuniões devido à situação “extraordinária” em Gaza, de acordo com o Ministério das Relações Exteriores do reino.
Cerca de 11 mil palestinos morreram no território no último mês em decorrência de bombardeios israelenses na área, segundo dados do Hamas usualmente aceitos por entidades internacionais. Israel revisou nesta quinta-feira (9) para 1.200 o número de vítimas do atentado terrorista que deu início à guerra. Há ainda cerca de 240 pessoas sequestradas pelo Hamas.
A ação militar de Israel vem se intensificando na área de hospitais como o Al-Shifa, que tinha cerca de 80 mil refugiados e pacientes até a sexta-feira (10). Tel Aviv acusa o Hamas de instalar centros de comando sob este e outros centros médicos em Gaza, tornando-os vulneráveis. Israel não se manifestou sobre a situação do hospital.
O porta-voz do Ministério da Saúde de Gaza afirmou que as operações no complexo do Al-Shifa, o maior da região, foram suspensas neste sábado (11) por falta de combustível. Como consequência, um recém-nascido morreu e outros 39 correm risco de vida.
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