Parlamentares médicos baianos divergem sobre pesquisa do CFM sobre aplicação da vacina da Covid-19 em crianças

Por Carine Andrade

Foto: Montagem/Bahia Notícias

A pesquisa lançada, há duas semanas, pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) com o intuito de saber a opinião dos médicos sobre a obrigatoriedade da vacina contra a Covid-19 em crianças de 6 meses a 4 anos e 11 meses de idade tem gerado críticas entre as entidades de classe e controvérsias no meio político.
Uma das perguntas feitas pelo CFM no questionário é se “os pais ou responsáveis [devem] ter o DIREITO DE NÃO OPTAR pela imunização de suas crianças”. A caixa alta utilizada em duas das quatro perguntas, na visão de entidades médicas, entre elas, a Sociedade Brasileira de Imunizações (SBI), implicitamente traz um viés político-ideológico à discussão e aponta contradição e insegurança por querer “equiparar crenças pessoais à ciência”.
O Bahia Notícias quis saber a opinião dos três parlamentares médicos eleitos pelo estado da Bahia para o Congresso Nacional sobre a pesquisa do CFM e, também, sobre a indicação da vacina ao público infantil. São eles: o senador Otto Alencar (PSD), e os deputados federais José Rocha (União) e Jorge Solla (PT).
Médico ortopedista e professor aposentado da Universidade Federal da Bahia (Ufba), Otto Alencar foi categórico ao afirmar que não cabe ao CFM fazer pesquisas de cunho opinativo e sem respaldo científico, uma vez que não é o médico quem decide se o paciente deve ou não se vacinar, já que a vacinação no País segue o Calendário Nacional de Vacinação, previsto pelo Plano Nacional de Imunizações (PNI), do Ministério da Saúde.
De acordo com Alencar, “quem colocou na cabeça do brasileiro que a vacina não funcionava não foram os médicos, nem os infectologistas". "Foi um capitão da reserva, que se tornou presidente do Brasil e que do exército foi expulso. Um negacionista, um psicopata chamado Jair Bolsonaro”, cravou. O senador explicou que o Brasil tem, hoje, “21 das doenças, entre elas as viroses, controladas por vacinas” e que nenhuma vacina é capaz de extinguir a doença no mundo. “Na Bahia, nós temos o que chamamos de ‘silêncio epidemiológico’, ou seja, nós estamos há muito tempo sem registrar um caso de paralisia infantil, de poliomielite, mas tem poliomielite na Índia, tem poliomielite em Marrakesh [cidade de Marrocos]”, pontuou.
Médico anestesiologista, o deputado federal José Rocha (União) declarou-se contra a obrigatoriedade. “Eu acho que essa é uma coisa que fica na responsabilidade dos pais, se vai vacinar ou não”, resumiu. Perguntando sobre o porquê de não existir a mesma resistência quanto às demais vacinas previstas no Calendário Nacional de Vacinação, o deputado respondeu que “as outras vacinas já estão consolidadas, já são conhecidas e já têm resultado". "E essa é uma coisa nova, uma coisa que você ainda não tem um domínio total”, discordou.
De acordo com boletim do Ministério da Saúde, até novembro de 2023, foram registradas 135 mortes de crianças menores de cinco anos no Brasil em decorrência da Covid-19; 5.135 casos de síndrome respiratória aguda grave foram contabilizados.
A reportagem entrou em contato com o deputado federal Jorge Solla, médico sanitarista e ex-titular da Secretaria da Saúde do Estado (Sesab), mas não obteve retorno até o fechamento da reportagem.

BANCADA DA AL-BA REAGE

A legislatura atual da Assembleia Legislativa da Bahia (AL-BA) tem quatro deputados estaduais médicos, sendo eles: Alan Sanches (União), ortopedista; Eduardo Alencar (PSD), também ortopedista, assim como o irmão Otto Alencar; Fabíola Mansur (PSB), oftalmologista; e Jordavio Ramos, recém formado em medicina e, portanto, ainda sem residência em nenhuma especialidade.
Para o líder da oposição, Alan Sanches, o momento de questionar a eficácia da vacina da Covid-19 já passou. Ele citou que ele e seus filhos tomaram as quatro doses do imunizante e que continuará indicando a vacina aos seus pacientes. “As pessoas discordando ou não, é fato que o mundo parou durante a pandemia e só voltou a funcionar após a vacina”, lembrou. Ele emendou que, no caso das crianças, também indicará que os pais vacinem seus filhos, desde que haja um maior esclarecimento quanto às questões de biossegurança. “Hoje, somente quem é contrário à vacina são os bolsonaristas radicais. Os médicos se vacinaram, eu me vacinei e continuarei tomando todas as doses que forem necessárias”, completou.
A oftalmologista Fabíola Mansur seguiu na mesma linha. À reportagem, ela afirmou que o papel do médico é informar os pais e responsáveis sobre os “riscos da não vacinação,uma vez que a vacina está incluída no calendário nacional de imunização e os pais têm a responsabilidade legal de zelar pela saúde de seus filhos”. A socialista também frisou que o Ministério da Saúde e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) avaliaram criteriosamente a segurança da vacina pediátrica contra a Covid-19 e “a constatação é de que os benefícios superam, e muito, os riscos de morbidade e mortalidade em crianças”.
A reportagem não conseguiu contato com os deputados Eduardo Alencar e Jordavio Ramos. O Bahia Notícias também procurou o único vereador médico de Salvador, Dr. José Antônio (PTB), mas não obteve retorno do ortopedista.
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