Empate heroico e fim de sina no torneio não podem esconder queda de rendimento e desequilíbrio da equipe cruz-maltina
Os jogadores do Vasco reunidos em campo durante a partida contra o Água Santa, pela Copa do Brasil — Foto: Leandro Amorim/Vasco
Por Vitor Seta
A Copa do Brasil é traiçoeira e exige regularidade nos 90 minutos, especialmente das grandes equipes, que entram como favoritas. O Vasco provou um pouco desse veneno, mas arrancou uma classificação heróica sobre o Água Santa, pela segunda fase da competição, ao empatar em 3 a 3 no tempo regulamentar e vencer por 4 a 1 nos pênaltis.
Tudo parecia tranquilo e encaminhado com menos de 20 minutos de jogo, quando o cruz-maltino já vencia por 2 a 0, dominando a partida. Mas uma brusca queda de rendimento trouxe à noite em São Januário drama, nervosismo e uma boa dose de alívio, com vitória nos pênaltis após um empate "espírita" no fim da partida.
Léo Jardim pegou a cobrança de Robles e Bruno Mezenga acertou a trave. No fim, coube a Vegetti, grande nome do ano no Vasco até aqui, converter a cobrança decisiva. O cruz-maltino espantou o fantasma de 2022 e de 2023, quando caiu nos pênaltis (para Juazeirense e ABC), e vai à terceira fase da rentável Copa do Brasil, garantindo mais 2,2 milhões de reais de cota de participação. O próximo adversário será definido por sorteio.
20 minutos intensos e drama
Nos primeiros minutos, o time de Ramón Diaz mostrou o que tem de melhor: muitas trocas de passe, um ritmo altíssimo e soluções ofensivas para massacrar a equipe de Diadema no ataque. No primeiro gol, em jogada bem construída, Payet chutou da entrada da área e Ygor Vinhas defendeu. No rebote, Galdames, em mais uma presença na frente do gol, abriu o placar.
No segundo gol, a noite parecia ainda mais encaminhada. Uma belíssima troca de passes de 1 minuto e 46 segundos, com 50 toques na bola, terminou em cruzamento perfeito de Paulo Henrique para Vegetti fazer o segundo.
A tranquilidade no placar trouxe até chances de ampliar, mas logo coincidiria, também, com minutos de queda de rendimento, erros técnicos e de passe que chamaram o Água Santa para a partida. Um momento que também expôs a falta de proteção na entrada da área, um problema crônico do Vasco nesta temporada.
Com o atual vice-campeão paulista mais solto, sobraram chances na entrada da área, algumas bem evitadas em defesas de Léo Jardim. Mas o pior cenário possível, um gol na saída para o intervalo, aconteceu. Neílton aproveitou lançamento de Luan Dias, em grande noite, para diminuir.
O cruz-maltino chegou a voltar do intervalo sem mexidas. A queda de rendimento continuou, e também baixou o clima de festa em São Januário. Foi questão de tempo para o Água Santa voltar a pressionar e empatar com o zagueiro Robles, novamente em jogada de Luan Dias.
Ramón Díaz tentou mexer na estrutura da equipe do Vasco. Tirou João Victor e reforçou o meio com Cocão, além de apostar na entrada de David no lugar de Adson. Mais tarde, Zé Gabriel, que também vivia noite ruim, foi sacado para a entrada de Sforza.
Com o empate, o Água Santa adotou a estratégia de parar o jogo com faltas. Foi um segundo tempo nervoso, com várias confusões dentro de campo e nas áreas técnicas. Enquanto isso, em campo, numa das primeiras vezes na temporada o Vasco não conseguiu impor sua proposta de jogo de forma alguma. O clima, dentro e fora das quatro linhas, era de apreensão.
Enquanto se lançava ao ataque, no fim do tempo regulamentar, o cruz-maltino acabou sofrendo o terceiro, justamente de Luan Dias. Mas, quando alguns torcedores já deixavam a Colina, Lucas Piton apareceu para o grito de esperança, reempatando a partida em cobrança de falta de Payet. Um gol na raça, que evitou o que tinha tudo para ser mais uma noite de Copa para se esquecer na Colina.
O que se seguiu foi uma intensa confusão nos bancos de reservas, que terminou com João Victor e Neílton, ambos já substituídos da partida, expulsos. O segundo tempo, com paralisação e acréscimos, durou 62 minutos. Houve pressão vascaína - Igor Henrique ainda deixou os paulistas com um a menos, em jogo que terminou com 19 cartões aplicados -, mas a definição ficou para as penalidades.
Passada a euforia, o susto e a nova dose de euforia, o Vasco vira suas atenções para a semifinal do Carioca. No domingo, faz o primeiro jogo com o Nova Iguaçu, novamente um duelo em que entra como favorito. A noite de teste cardíaco para o torcedor cruz-maltino na Colina não deixa lição mais clara: no mata-mata, não basta dominar ocasionalmente.