Por Fernando Duarte
Foto: Montagem/ Bahia Notícias
Desde o final da década de 1990, quando Antônio Carlos Magalhães ainda existia com um coronel na política baiana, não se via possibilidades tão palpáveis de que a Câmara dos Deputados e o Senado Federal fossem dirigidos por parlamentares da Bahia. E os nomes postos dependem não apenas do próprio sucesso, mas também um certo nível de “fracasso” de aliados do próprio partido. É uma conta complexa, mas é preciso ser bem didático.
Desde a recondução de Rodrigo Pacheco (PSD-MG) no Senado, o antecessor Davi Alcolumbre (União-AP) fez toda a gestão para que retornasse ao posto. Nome basilar para a sobrevivência do primeiro biênio da relação do Congresso Nacional com Jair Bolsonaro, Alcolumbre nunca escondeu as intenções de voltar para a comandar os senadores - e as formas como manteve a ascendência sobre distribuição e emendas e o controle da Comissão de Constituição e Justiça foram apenas as perspectivas mais explícitas disso. O amapaense daria as eleições como favas contadas até que um correligionário tivesse a candidatura altamente viável para a Câmara.
Elmar Nascimento (União-BA) é o queridinho de Arthur Lira (PP-BA) para sucedê-lo. Depois de ter sido um dos artífices da ascensão do alagoano frente ao antigo aliado Rodrigo Maia, Elmar se cacifou como homem forte não só de Lira, mas também na negociação pela independência da Câmara em relação ao governo federal. Entendamos que, não é meramente uma disputa simbólica de poder, mas de controle de diversas nuances da vida pública brasileira, que perpassa por um sindicalismo parlamentar que aparece nas entrelinhas.
Com a possibilidade de Elmar ser consolidado como candidato único (viável) da Câmara, Antônio Brito (PSD-BA) tentou aparecer como azarão, mostrando que não seria adequado que o União Brasil comandasse o Senado com Davi e a Câmara com Elmar. Para o governo, não seria estratégico ver o Legislativo sob a batuta de um partido cuja fidelidade é fluída o suficiente para não garantir a segurança que um governo fragilizado precisa - lembremo-nos da herança do Legislativo superpoderoso após Bolsonaro.
Brito entrou em cena para cumprir esse papel e, por mais que tente ser mostrado como o “líder dos líderes”, para parafrasear o próprio imitando Arthur Lira, o social-democrata baiano sempre teve chances pequenas contra Elmar. O conterrâneo foi paciente e, após ver frustradas tantas tentativas de brilhar (seja como secretário estadual, como candidato a presidência da Câmara ou como ministro), alicerçou um caminho muito difícil de ser demovido. Aí que as atenções se voltam para outro baiano, agora no Senado: Otto Alencar (PSD).
O deputado do PSD funcionaria como “boi de piranha”, para que o governo olhasse com mais atenção para o Senado, já que a chance de Elmar como representante sindical dos deputados é muito maior do que qualquer outro nome que tenha surgido ou venha a surgir. Brito abriu a brecha para que o União Brasil não controle ambas as Casas e o PSD de Gilberto Kassab, conhece o próprio potencial - e o potencial de articulação de Otto. O resultado: o senador baiano passou a figurar como uma possibilidade, frente a um então inconteste Davi Alcolumbre.
Será uma disputa entre tubarões da política, envolvendo partidos poderosos, como União Brasil e PSD, nomes poderosos, como Elmar Nascimento, Arthur Lira, Antônio Brito, Davi Alcolumbre e Otto Alencar, e a própria estratégia de sobrevivência do governo Lula 3 na conturbada relação com o Congresso Nacional. Já preparou a pipoca?