Por Anna Virginia Balloussier | Walter Porto
Foto: Divulgação
Édouard Louis se liberta. O francês de 31 anos, grande sensação internacional desta Flip ao lado de Mohamed Mbougar Sarr, se despede da equipe da Todavia, sua editora no Brasil, e sai flanando pelas ruas de Paraty.
Os editores descobriram que não havia ido para o quarto da Pousada do Ouro, uma das mais luxuosas dessas bandas, porque amigos começaram a postar selfies com o escritor, solto pelo centro histórico da cidade.
Solto estava, soltou ficou. O autor de "Monique se Liberta", seu mais recente, e de coqueluches literárias como "O Fim de Eddy" chegou na véspera da sua mesa, marcada para o sábado (12). Mostrou bateria social para enfileirar as festas da Todavia e da Casa Sete Selos, onde dançou tanto que no dia seguinte temeu não ter voz para sua participação na Flip.
Na primeira parada festiva, ficou na roda de Gregorio Duvivier, com quem tem um bate-papo nesta quinta (17), no Rio. Duvivier chegou a chamá-lo para jogar futebol com Chico Buarque, convite que Sarr já havia topado --dois dias atrás, o senegalês encarou uma pelada com o cantor e seu time amador Politheama.
Mas deu boi na linha na tradução: o escritor e humorista falou futebol em francês, abreviado para foot, e Louis entendeu flûte, que é flauta no mesmo idioma. De qualquer modo, não tocou flauta nem jogou futebol no Brasil. Não ainda, pelo menos.
Após sua mesa no dia seguinte, foi à festa da Casa República e ainda estendeu a noitada bebendo na rua.
A agenda por aqui é intensa. Tem duas mesas na Flip. Na segunda (14), Marina Person será a anfitriã de um jantar para poucos convivas em sua homenagem. Terça (15) será o dia de falar na livraria Megafauna em São Paulo, seguida de uma festa na Casa de Francisca, também no centro paulistano.
Algumas caras já são conhecidas. Com José Henrique Bortoluci ele tomou um café em Paris. Tinha recebido a tradução em francês de "O que É Meu", livro que o brasileiro discutiu na Flip de 2023. Também ganharam exemplares os conterrâneos Annie Ernaux, prêmio Nobel de literatura, e Didier Eribon, filósofo citado em livros de Louis.
Foi o amigo Didier, a quem credita como responsável por um despertar intelectual, que recomendou a obra de Bortoluci ao francês. Os dois compartilham em seus escritos a sensação de viver uma vida dupla como alguém que trafega na elite intelectual e veio das margens sociais.
Louis o adicionou no Instagram, e a amizade nasceu. A escritora Tati Bernardi, colunista da Folha, também era um rosto familiar. Como Louis e Bortoluci, também ela fala sobre o desconforto de viver entre dois mundos, uma origem na classe média baixa e um presente na elite progressista.
Eles já tinham conversado por Zoom, para uma longa entrevista que o jornal publicou na sexta (11). Bernardi ganhou dela a alcunha de "minha anja".
Louis não nega foto com admiradores, mas gosta de controlar sua imagem. Costuma pegar o celular da pessoa para ele mesmo tirar a selfie. Escolhe o ângulo e gosta de sair com só a metade do rosto à mostra.
Na sessão de fotos para a Folha, foram quatro locações diferentes e centenas de cliques. Aprovou um punhado. A certa altura, passando pelas fotos, vetou uma. "Não, essa eu estou parecendo meu pai."
Seu "Quem Matou Meu Pai" fala da experiência de crescer numa cidade do interior francês, talhada pela pobreza e pela homofobia que viveu dentro e fora de casa.
Também rejeitou um tipo específico de retrato. "Pode ser em qualquer lugar, menos natureza e livros."
Da América Latina, já conhecia Buenos Aires e estava animado para vir ao Brasil. O convite para a Flip lhe chegou pela Wylie, sua agência literária, uma gigante no meio. Não cobrou cachê.