Flica chega à 12ª edição com a programação vasta e diversa

Festa Literária Internacional de Cachoeira tem expectativa de receber até 100 mil visitantes

Thalita Rebouças, Ane Kethleen e Liniker são algumas das atrações da Flica - Foto: Divulgação

Há mais de uma década, as ruas históricas e casarões coloniais de Cachoeira, no Recôncavo Baiano, ganham um tom especial quando outubro se aproxima. É sinal de que está chegando também a Festa Literária Internacional de Cachoeira (Flica), maior evento literário do Norte-Nordeste. Anualmente, a cidade se transforma em palco para uma grande celebração das letras. Este ano, em sua 12ª edição, a festa acontece entre os dias 17 a 20 deste mês.
O tema deste ano, “O Mundo da Literatura em Festa”, não poderia estar mais correto: nos quatro dias em que Cachoeira assume a posição de cidade da literatura, a Flica receberá 58 autores baianos, nacionais e internacionais, que se reunirão em cinco espaços principais com o objetivo de democratizar o acesso à leitura.
Entre eles, nomes como a comunicadora baiana Rita Batista, o escritor de suspense Raphael Montes e o autor angolano Pau de Cabinda, além da cantora Liniker. A expectativa dos organizadores é que 100 mil pessoas circulem pelo município nesse período.
A programação intensa – e gratuita! – inclui atividades como debates, apresentações e intervenções artísticas, exibição de conteúdos audiovisuais e apresentações de filarmônicas. Nas mesas, o público encontrará diálogos sobre pertencimento, autodescoberta, território e raça.
Como já é tradicional, os pequenos também terão um espaço para chamar de seu: a Fliquinha, com temas sérios discutidos de forma lúdica, através de encenações e contação de histórias. O espaço receberá também uma apresentação do espetáculo Dandara na Terra dos Palmares, que trata de igualdade racial e formação de identidades.
Para Vanessa Dantas, coordenadora geral da Flica e CEO da Fundação Hansen Bahia, levar a literatura para diferentes pontos de Cachoeira é sempre especial. E, segundo ela, esta edição está sendo preparada de forma ainda mais cuidadosa e organizada, com uma curadoria minuciosa.
“Ocupar esses espaços em Cachoeira para que sejam espaços de muito diálogo, informação, acesso à literatura e à cultura é algo que nos deixa muito satisfeitos pelas entregas, principalmente ao povo do Recôncavo, à população baiana e as pessoas que vêm nos visitar de outros estados brasileiros e até de fora do Brasil. E temos certeza que nessa edição ainda iremos nos superar em qualidade de diálogos, de entregas, de acessibilidade, de todas as maneiras no espaço da Flica”, defende.
A jornalista e apresentadora soteropolitana Rita Batista, que participa da Flica pela primeira vez este ano, define o evento como “um exercício prático de incentivo à leitura e à educação na Bahia e no Brasil”. Em fevereiro deste ano, Rita transformou os mantras que compartilhava com os seguidores de forma oral nas redes sociais no livro de estreia A vida é um presente. Nele, colocou 111 afirmações que mudaram sua vida.
“Há uma ligação total entre a literatura e a espiritualidade. Eu estou falando especificamente dessa literatura aplicada à espiritualidade, mas quando a gente pega qualquer livro que seja, a gente vai para aquele universo, o livro nos transporta. A gente tem a possibilidade onírica de sonhar, de fazer essa viagem sem sair do lugar, apenas com as palavras e a criatividade dos autores e autoras ou o registro fidedigno de uma parte da história, por exemplo, que aquele autor ou aquela autora colocou na sua obra e nos deu de presente. Uma obra literária é um presente para a humanidade”, diz. Na manhã de sexta-feira, a comunicadora fará uma retrospectiva de seus 21 anos de carreira na mesa “O que aprendi até aqui”?
Entre as mesas literárias do evento, estará também a carioca radicada em São Paulo Rafaela Ferreira, que marcará presença no bate-papo “Entre romances e poesia” ao lado do baiano Anderson Shon, na tarde de sábado.
Atriz, apresentadora, autora, educadora, produtora e ativista, ela já interpretou personagens como a Nanci na novela Poliana Moça, do SBT. A veia artística a levou para o mundo das letras em 2023, quando lançou o livro Eu só cabia nas palavras. Ao longo das 152 páginas, trata de autodescoberta, amizade, gordofobia e sexualidade.
“A literatura é importante em todos os momentos da vida. E na juventude, especialmente na minha história, a literatura foi um ponto onde eu conseguia me sentir bem, apesar de todas as mudanças que eu estava passando, todos os questionamentos. Eu emprestei um pouco dessa realidade para a Giovana, que é a protagonista do livro, e eu acredito que isso aconteça com muitos jovens”, afirma. Na mesa, ela contará como foi o processo de criação do livro, além de receber perguntas do público, autografar livros e, claro, abraçar os leitores.
“Esse é um momento sempre muito especial para a gente, porque o trabalho da escrita muitas vezes é solitário, então o momento de poder compartilhar, trocar, contar como que foi o processo e ouvir dos leitores como foi a experiência deles é um momento único”, diz Rafaela.

A pluralidade da cultura

Evento literário consagrado, a Flica está longe de se concentrar apenas nas páginas dos livros. Defendendo a transversalidade entre as linguagens, a festa conta com nomes da música e da atuação nas mesas de conversa e debates e traz performances de todos os gêneros para a programação.
Na quinta-feira, por exemplo, o público poderá ouvir a cantora Liniker contar mais sobre o processo de criação artística na mesa “Criar dentro dos sonhos, inaugurar línguas, destruir processos”, na Tenda Paraguaçu. De acordo com Vanessa Dantas, a curadoria da Flica busca sempre alcançar essa pluralidade de vozes.
“Nós vamos ter também atrações musicais, como Sambaiana e a Orquestra Reggae de Cachoeira, convidando o Edson Gomes. Outros gêneros musicais, como arrocha, lambada, samba, pagode, tudo que envolve a cultura da Bahia, a cultura do Recôncavo, a cultura brasileira. A Flica é isso: a junção desses vários mundos, e o mundo da literatura em festa durante quatro dias em Cachoeira”, celebra.
Autores de todos os cantos do mundo contribuem para a festa com suas obras e um pouco das suas culturas. Este ano, algumas das atrações são a poetisa e contadora de histórias malauiana Upile Chisala e o poeta e músico angolano Kalaf Epalanga. “A gente busca sempre fazer essa diversidade para que o público tenha a oportunidade de ter acesso às mais variadas experiências de literatura e de cultura do Brasil e do mundo”, diz Vanessa.

Valorização

A edição deste ano trouxe ainda uma novidade para os autores e artistas independentes: é a ampliação da Casa dos Autores, que contará com realização de lançamentos literários, sessões de autógrafos e exposições de artesanato. Para compor esse espaço, a Casa dos Autores Brasileiros, foram selecionadas 20 pessoas, por meio de edital.
“Esse ano, em detrimento da grande demanda desses autores pela participação na Flica, nós elegemos uma curadoria composta por Dinalva Melo e Dianne Brito, que são duas acadêmicas, duas intelectuais, conhecedoras dessas obras também literárias dos baianos e autores brasileiros, e lançamos um edital. Nós queremos ampliar ainda mais esse espaço, porque sabemos que o fomento da literatura é algo de fundamental importância para o nosso Estado e para o nosso país”, diz Vanessa.
“A Flica deste ano estende suas intenções para envolver cada vez mais autores e artistas, para que eles possam ter uma oportunidade de divulgação das suas obras, considerando que nem sempre isso é possível. A literatura, a arte e a cultura têm sido extremamente relegadas a segundo plano no nosso país, e é preciso que essas oportunidades sejam criadas”, declara Dinalva Melo, uma das curadoras do Espaço Casa dos Autores Brasileiros.
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