Por João Gabriel | Folhapress
Foto: Divulgação/Ibama
O Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) aplicou R$ 364,5 milhões em multas contra 23 frigoríficos por comercializar carne de gado criado em áreas embargadas por desmatamento ilegal.
Entre os alvos está uma filial de São Félix do Xingu (PA) do grupo JBS, que pertence à J&F, dos irmãos Joesley e Wesley Batista. O valor da punição contra a empresa, uma das maiores produtoras de carne bovina do mundo, ainda não foi estipulado pelos fiscais ambientais.
Outras firmas envolvidas na ação, realizada neste mês de outubro, são a 163 Beef, em Novo Progresso (PA), e a Frizam, em Boca do Acre (AM), ambas reincidentes em casos de descumprimento de leis ambientais.
A reportagem entrou em contato com a JBS por meio de sua assessoria de imprensa, por email e telefone nesta quinta-feira (24), e questionou sobre a operação, mas a empresa não se pronunciou até a publicação deste texto.
A reportagem também procurou os outros dois frigoríficos, por email e telefone, na sexta (25), mas não teve resposta.
No total, segundo o órgão ambiental, foram apreendidas 8.854 cabeças de gado. A operação, batizada de Carne Fria 2, mirou empresas no Amazonas e no Pará e resultou em 154 autos de infração.
A primeira edição da Carne Fria, em 2017, já havia atingido frigoríficos do grupo JBS, que também foi alvo da chamada operação Carne Fraca, no mesmo ano (as duas ações, no entanto, não estão relacionadas).
Os frigoríficos foram autuados por terem comprado gado de propriedades que constam na lista pública de embargos ambientais.
"Quem compra animais oriundos de áreas embargadas contribui para a destruição da floresta amazônica e a continuidade do dano ambiental nas áreas desmatadas ilegalmente", disse o instituto, em nota.
Segundo investigadores, as operações contra frigoríficos significam uma segunda fase nas ações de combate aos crimes ambientais, como desmatamento ilegal e invasões de áreas protegidas.
Isso porque, nos últimos anos, as operações focavam sobretudo fazendeiros que criavam gado em locais irregulares. Foram dezenas de operações contra proprietários rurais que ocupavam ilegalmente, para sua produção, terras indígenas ou unidades de conservação.
Agora, dizem sob reserva investigadores dos órgãos federais, a ideia é atacar a cadeia produtiva de carne, ou seja, aqueles que compram o gado criado ilegalmente por esses fazendeiros.
Nesta operação específica, o Ibama descobriu 69 propriedades rurais que comercializaram cerca de 18 mil cabeças de gado criadas em um total de 26 mil hectares que tinham sido embargados por desmatamento ilegal.
Essas propriedades também foram autuadas por descumprimento do embargo aplicado, por impedirem a regeneração da vegetação nativa e por venderem produtos de origem em área barrada.
Depois de identificar os fazendeiros, os investigadores se debruçaram sobre os frigoríficos que compraram e venderam carnes dessas fazendas.
As informações obtidas na operação, diz o Ibama, serão encaminhadas ao Ministério Público Federal, que pode oferecer denúncia contra as empresas e seus responsáveis.
A operação aconteceu nas cidades de Boca do Acre e Lábrea, no Amazonas, e Novo Progresso, Santarém, Altamira, São Félix do Xingu, Igarapé-Açú, Portel, Anapú, Pacajá, Novo Repartimento, Ipixuna, Tomé-Açu e Bom Jesus do Tocantins, no Pará.
A operação contou com apoio da Polícia Rodoviária Federal e da Força Nacional e também utilizou informações de órgãos estaduais.
Em abril, as ONGs Mighty Earth, voltada a campanhas globais, e AidEnvironment, focada em pesquisas, publicaram um relatório apontando a expansão do desmatamento na cadeia de fornecedores da JBS.
O documento, produzido com dados do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisa Espacial), já apontava indícios de ilegalidade em alguns casos.