Foto: Ricardo Stuckert / PR
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) esteve a um passo de demitir o comandante da Marinha, almirante Marcos Sampaio Olsen, em resposta a um vídeo institucional publicado pela Força no Dia do Marinheiro, em 13 de dezembro. A peça publicitária, que ironizava críticas aos supostos privilégios dos militares, provocou irritação no Planalto em meio às discussões sobre cortes de gastos e ajustes fiscais.
O vídeo apresentava as dificuldades da vida militar, culminando com uma marinheira perguntando: “Privilégios? Vem pra Marinha”. A mensagem foi interpretada como um desafio ao governo, que vem buscando reduzir despesas, inclusive no setor de previdência dos militares, por meio de um projeto de lei enviado ao Congresso.
A demissão de Olsen foi evitada pelo ministro da Defesa, José Múcio, em uma reunião com Lula em São Paulo. Segundo fontes, o ministro contemporizou, argumentando que sua própria saída poderia ser mais conveniente para evitar mais uma crise entre o governo e as Forças Armadas.
O presidente, no entanto, aceitou apenas uma reprimenda ao comandante da Marinha e ordenou a remoção do vídeo das redes sociais da instituição.
O desconforto entre o presidente e a Marinha ocorre em um momento delicado, com o dólar em alta e resistências dentro do Congresso sobre o pacote fiscal do governo. Lula tem enfrentado dificuldades para conter despesas enquanto tenta acomodar demandas de diferentes setores.
Este não é o primeiro embate entre o governo Lula e as Forças Armadas. Desde o 8 de Janeiro, data da invasão aos três Poderes em Brasília, a relação com os militares tem sido tensa. A revelação de envolvimento de oficiais na trama golpista, que culminou com 25 indiciados, incluindo o ex-ministro da Defesa Walter Braga Netto, fortaleceu a desconfiança do governo petista em relação à caserna.
A demissão do comandante do Exército no início do ano e a tentativa de Lula de enquadrar os militares por meio de uma reforma constitucional também marcaram o período. Apesar de abortada por Múcio, a proposta visava limitar a influência de militares na política e criar um “cordão sanitário” entre as Forças Armadas e o poder civil.
O ministro José Múcio já vinha manifestando cansaço com o cargo e sua intenção de deixar o governo em 2025. A pressão constante da ala mais à esquerda do PT e os embates internos com setores do governo são apontados como os principais fatores de desgaste. “Com 76 anos e uma longa carreira no serviço público, ele considera sua missão cumprida”, disseram aliados.
A sucessão de Múcio é um desafio para Lula. Entre os nomes especulados está o do vice-presidente Geraldo Alckmin, que já recusou a função no governo de transição. Outro candidato é Márcio Rosa, secretário-executivo de Alckmin no Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC), que tem experiência na indústria de defesa e relações com o setor militar.
A crise envolvendo o vídeo da Marinha reflete um desafio mais amplo enfrentado pelo governo Lula: equilibrar a necessidade de ajustes fiscais com as demandas e sensibilidades das Forças Armadas. Enquanto isso, a desconfiança mútua entre o Planalto e os militares segue como um obstáculo para a estabilidade institucional no país.