Por Isabella Menon | Folhapress
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Ainda não há provas de que o ex-prefeito de Taboão da Serra, José Aprígio da Silva (Podemos), 72, sabia do plano de forjar um atentado contra ele, afirmam a Polícia Civil e o Ministério Público de São Paulo. Aprígio foi baleado no dia 18 de outubro, em meio às eleições.
As investigações apontam que o caso foi arquitetado para que Aprígio conseguisse destaque e, consequentemente, a reeleição.
Em entrevista para jornalistas, na segunda-feira (17), representantes da Polícia Civil e Ministério Público de São Paulo afirmaram que a hipótese de fraude teve início a partir de uma delação premiada.
Por meio de nota, a defesa do ex-prefeito diz que ele foi surpreendido na manhã desta segunda com o desdobramento das investigações envolvendo a tentativa de homicídio que sofrera durante as eleições municipais de 2024.
No dia do atentado, a prefeitura do município da Grande São Paulo afirmou que ele foi atingido no ombro, dentro do carro oficial blindado, enquanto estava a caminho de uma entrevista na sede da administração municipal.
Nas buscas e apreensões desta segunda foram coletadas armas, munições, celulares e computadores dos investigados. Uma das buscas aconteceu na casa do ex-prefeito, onde foi encontrado R$ 320 mil em espécie.
"José Aprígio é vítima", afirmou o advogado Allan Mohamed. "Ele sofreu um tiro com armamento pesado em outubro de 2024 que, por sorte, não ceifou a sua vida", completou o responsável pela defesa do ex-prefeito de Taboão.
Em relação ao dinheiro apreendido, ele afirma que trata-se de quantia devidamente declarada em seu imposto de renda, e, portanto, de origem lícita.
O delegado Hélio Bressan, à frente da Seccional de Taboão da Serra, disse que a partir da delação uma série de indícios levantaram a hipótese de que o caso se tratava de uma fraude. Entre eles, o fato de que, no dia do atentado, Aprigio esteve por diversas vezes em locais abertos.
Segundo ele, não faz sentido que os criminosos tenham esperado até o momento que o ex-prefeito estivesse dentro do carro para cometer o crime.
A polícia e a promotoria deflagraram a Operação Fato Oculto, na manhã desta segunda, para cumprir dois mandados de prisão preventiva e dez mandados de busca e apreensão.
A polícia afirma que, até o momento, não há provas concretas de que o ex-prefeito soubesse da fraude. Também diz que ainda não há provas de que às pessoas que estavam dentro do carro soubessem do plano.
Porém, o órgão cita que o comportamento dessas pessoas foi estranho. Isso porque, logo após a troca de tiros, a equipe de Aprigio passou a filmar os ferimentos do político.
No dia do crime, foi usado um fuzil AK-47 e a polícia acredita que o armamento foi escolhido para tornar o crime mais crível. Também afirma que o plano pode ter falhado durante o ataque.
A hipótese que a polícia trabalha é que o atirador estava em um carro e iria disparar em algumas partes do veículo do ex-prefeito, mas sem atingir o candidato.
Porém, ainda de acordo com essa tese, os criminosos tiveram problemas com a arma durante o atentado. Neste momento, o atirador teria usado o fuzil para alvejar o carro do ex-prefeito.
Os investigadores também afirmam que a delação premiada apontou que, ao todo, os criminosos teriam recebido R$ 500 mil de recompensa pela participação no atentado forjado, mas o valor ainda está sob investigação.
A operação da Polícia Civil e do Ministério Público prendeu temporariamente duas pessoas, incluindo o irmão de Aprígio. Outros dez mandados de busca e apreensão foram cumpridos nesta manhã de segunda.
Os agentes estiveram na casa de três ex-secretários municipais: José Vanderlei Santos, ex-secretário de Transportes; Ricardo Rezende Garcia, ex-secretário de Obras; e Valdemar Aprígio, ex-secretário e irmão do ex-prefeito, que foi preso preventivamente por portar uma arma sem documentação.
As defesas dos secretários não foram localizadas até a publicação deste texto.
A investigação aponta que os secretários de Aprígio, então prefeito de Taboão, fizeram contato com dois homens, Anderson da Silva Moura e Clovis Reis de Oliveira, para a realização do atentado.
O advogado de Anderson, Ramalho Nolasco, esteve na delegacia nesta segunda para prestar esclarecimentos.
Ele afirma que o cliente não tem nenhuma relação com o caso, nem com os secretários e nem com o ex-prefeito. Clovis está foragido. O filho dele foi encontrado na residência de Clovis e encaminhado para a delegacia.
José Aprígio da Silva, ex-prefeito de Taboão da Serra, trabalhou como servente de pedreiro e conseguiu fazer fortuna no ramo imobiliário, com diversos empreendimentos na cidade.
Aprígio disputou o segundo turno para a prefeitura da cidade contra o candidato Engenheiro Daniel (União Brasil), que acabou eleito para o cargo.
No dia do atentado, Aprígio foi alvejado quando trafegava por um trecho da rodovia Régis Bittencourt que foi municipalizado, segundo divulgado pela sua assessoria na época. Além do motorista, também estavam no veículo um videomaker e outro funcionário da prefeitura. Eles não foram atingidos.
Depois do ataque, Aprígio foi direcionado inicialmente à UPA (Unidade de Pronto Atendimento) Akira Tada, ainda em Taboão, e depois transferido ao Albert Einstein.
Segundo afirmou a Secretaria da Segurança Pública de São Paulo, também na semana do atentado, o carro onde estava o prefeito, um Jeep Renegade, transitava pela Régis, no sentido Curitiba, quando um veículo Kwid na cor vermelha emparelhou e efetuou diversos disparos. A rodovia corta a cidade.